Grafismos Tribais: A arte tribal do artista Denis Noveli

Conheça sobre Grafismos Tribais e a história do artista Denis Noveli na arte da tatuagem.

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Conheça sobre Grafismos Tribais e a história do artista Denis Noveli na arte da tatuagem.

Bismani Huni Kuī, da aldeia Huwã Karu Yuxibu do Acre. 

Esse texto é diferente, além de caminhar pela trajetória do artista, é preciso estar atento, pois nesse caminho você irá conhecer mais sobre processo criativo e o freehand.

Só me acompanhar aqui:

TRAJETÓRIA / INÍCIO

Eu desenho desde que consigo me lembrar.

Minha família incentivava. Curiosamente, eu não fazia cursos de desenho. Mas, estava sempre desenhando.

Na adolescência, tive meu primeiro contato com um nicho artístico, o graffiti. Na época não tínhamos acesso a bons sprays. O que tínhamos de informação era uma revista mensal nas bancas de jornais.

Em meio a essa escassez de informação, eu conheci a tatuagem como cliente. E olhei para as agulhas como mais uma ferramenta possível de manifestar arte. Apenas isso.
Por volta de 2005, comprei meu primeiro kit de tatuagem, sem qualquer ambição, até porque a tatuagem não fornecia a estabilidade financeira que temos hoje.


E comecei a tatuar.

Em algum tempo, percebi que eu poderia ter um sustento básico com o dinheiro das tatuagens. O que me parecia suficiente.

Meu pai e minha mãe se tatuaram comigo. Eles nunca disseram, mas sei que eles fizeram isso só para me incentivar. Foi importante saber que meus pais acreditavam na minha capacidade de escolha.

Eu tive três estúdios. Creio que não existe falha quando há aprendizado.


No meio do caminho, a profissão se tornou viável financeiramente.


Com meu terceiro estúdio, eu atingi estabilidade e consegui dar uma boa estruturada na vida.

Surge minha primeira ambição na tatuagem: encontrar minha identidade artística.

TRIBAL POLINÉSIO

A tatuagem é uma arte permanente, em uma superfície orgânica.

Sendo assim, os desenhos devem ser projetados para estarem bons na pele com o passar dos anos. Isso é uma característica dos estilos tradicionais de tattoo.

Estudei o estilo oriental por um tempo, mas nunca fiquei satisfeito com o resultado dos meus desenhos.

Me identifiquei com a estética geométrica que o pontilhismo possibilita e também com o nível de durabilidade na pele. Eu já gostava mais dos meus desenhos nesse estilo.

Mas eu me encontrei mesmo foi no tribal polinésio. Um estilo bem tradicional de tattoo que possibilita uma estética linda, com durabilidade excelente e um encaixe anatômico harmônico. Carregado de ancestralidade e de cultura que eu me identifico! Além de representar a natureza.

Eu sempre me interessei por cultura indígena, sempre tive esse chamado dentro de mim. Sempre fui muito ligado a natureza e sempre a enxerguei como uma mãe generosa e abundante.

Isso é arte para mim!

Eu passei a me considerar um artista de verdade quando comecei a manifestar a arte como um pedaço de mim.

A cultura polinésia não é só uma cultura com riqueza de grafismos tribais, é também uma cultura diretamente ligada a tatuagem. Existem registros milenares desses povos pigmentando a pele definitivamente, num processo artesanal e doloroso. Tatuagem!

A palavra Tattoo deriva de “tatau” que é uma palavra de origem Polinésia.

Estudando esses grafismos, notei que eu tinha facilidade em fazer traços precisos e simetrias perfeitas.

Eu passei a “desconstruir” os grafismos apenas no olhar e entender como construir eles no papel ou na pele.

Meus desenhos começaram a me satisfazer rapidamente.

IDENTIDADE ARTÍSTICA

Eu percebia que desenhar com referência visual, fazia tudo parecer muito igual, “mais do mesmo”. Então decidi separar o tempo de estudo do tempo de criação.

Passei a desenhar contando somente com a minha criatividade e com o acervo de conhecimento que eu trazia dentro de mim.

Funcionou! Em pouco tempo eu desenhava sem influência direta do trabalho de outros artistas.

Com o tempo esse acervo interno foi aumentando e se tornando uma biblioteca de fácil acesso e que não ocupa espaço.

Eu já me reconhecia nos meus desenhos.

Meus clientes traziam relatos sobre pessoas que abordavam eles em locais públicos, perguntando se aquela era uma tattoo do Denis Noveli.

Isso é, para mim, um dos meus maiores troféus. Junto com o reconhecimento dos tatuadores que eu admiro e que tem uma crítica artística bem reta.

Esses “prêmios” aumentaram em quantidade e qualidade com o tempo.


GRAFISMOS BRASILEIROS

A paixão pela Mãe Natureza e o interesse sobre culturas indígenas ancestrais, somados a busca por auto conhecimento. Assim como em uma conta matemática, o resultado é exato: em algum momento do caminho eu me deparei com as plantas medicinais da floresta Amazônica e conhecimentos espirituais indígenas.


HUNI KUI

Logo, eu tive o privilégio de conviver com uma família indígena da etnia Huni Kui, originária da floresta amazônica.

Foram 10 dias de intenso aprendizado em contato próximo com seus costumes e conhecimento. Desde práticas cotidianas como pesca e banho de cachoeira, a cerimônias espirituais com plantas medicinais da floresta.

Tive a honra de tatuar uma indígena dessa família, que em seguida se tornou Cacique da sua aldeia. Passei um bom tempo com ela, aprendendo sobre os grafismos Huni Kui.



Ela pintava meu corpo com urucum e jenipapo, me contando histórias do seu povo sobre como os grafismos foram revelados a eles por um ser da floresta.



O pai dela é Pajé, dotado de uma pureza e simplicidade tamanha que me faz lembrar o quanto eu ainda tenho que caminhar nessa jornada sagrada da vida para evoluir como ser.

Ele observava de perto o meu interesse e respeito sobre a arte do seu povo, enquanto eu estudava com sua filha.

Em certa noite, durante uma cerimônia, ele veio até mim na volta do fogo me dizer que, logo que acordássemos no dia seguinte, teríamos uma conversa.

Foi nessa conversa que, dentre outras pautas, ele manifestou que gostaria que eu carregasse os grafismos do seu povo para o mundo. Me sugerindo e autorizando a trazer os grafismos Huni Kui para as minhas tatuagens.

MARAJOARA

Já imerso em estudos de grafismos de diversas tribos do mundo, naturalmente comecei a buscar conhecer mais da riquíssima cultura do nosso país.

O povo Marajoara deixou um legado artístico dos mais expressivos no Brasil. Em um ambiente que mistura duas das atmosferas de tribos que eu havia estudado até então: o oceano e a floresta. Eles viveram em um arquipélago no litoral do norte do Brasil em bioma amazônico.

Conheci pessoalmente um dos sítios, chamados tesos, onde se encontra vestígios dessa tribo.

Pude encontrar, tocar e contemplar seus grafismos pintados em peças de cerâmica utilizados em seu cotidiano.

Acompanhado de uma equipe de estudiosos dessa cultura. Dentre eles, um ceramista nativo da região que nos apresentou a outros nativos que, assim como ele, carregam com orgulho e dedicação esse legado cultural.

Uma imersão de aprendizado na cultura de uma das mais elaboradas civilizações amazônicas. Em um ambiente rico em música e dança, arte visual e conhecimento ancestral de espiritualidade.

A busca não pára. Tenho conhecimento de grafismos de diversas tribos brasileiras e sul-americanas. E de outros continentes.

Grafismo brasileiro, etnia Marajoara. Povo que viveu em conexão com o oceano e ao mesmo tempo com o bioma Amazônico. Tattoo feita na querida @laurazanett

FREEHAND / INSPIRAÇÃO

Escolhi o freehand como técnica de criação porque é a forma mais eficaz de encaixar o desenho anatomicamente no corpo.

Crio na presença do(a) cliente, diretamente na sua pele com canetas. Somos, nesse momento, dois indivíduos potencializando a mesma intenção.

O corpo de cada pessoa sugere caminhos diferentes.

Eu faço essa leitura direta, procurando manter a mente livre de expectativas. Deixando cada peça o mais autoral e autêntico possível.

Considerando o meu conhecimento, o gosto pessoal do(a) cliente, sua intenção e história, eu trago o desenho através da minha visão e identidade artística.

Na hora de criar, eu não uso referência visual. Eu me inspiro no que carrego dentro.

Tem muito estudo e muita técnica por trás, mas percebo a arte mais como sentimento do que como teoria.

A criação de mente vazia, foi a forma que encontrei de trazer autenticidade e identidade para o meu trabalho.

Vejo mais verdade no resultado, criando dessa forma.

Somos influenciados a todo momento. Pela atmosfera em que vivemos e pelas pessoas que convivemos. Aquilo que absorvemos, através do nosso filtro pessoal, forma a nossa individualidade.


FUTURO

Costumo viver um dia de cada vez, prefiro assim.

Atualmente estou trabalhando em Florianópolis. Quero solidificar a minha carreira no Brasil. Deixar algum legado artístico baseado na beleza e sofisticação da arte tribal.

Acredito que a reconexão com a natureza é o acesso a uma fonte abundante de evolução física, mental, emocional e espiritual.

A arte tribal representa essa reconexão.

CONTRIBUIÇÃO PARA QUEM ESTÁ INICIANDO NA TATTOO

Iniciantes em qualquer nicho sempre buscam por uma fórmula de aprendizado e execução.

Comecei sozinho em uma época de informação escassa.

A resposta que encontrei para a maioria das minhas perguntas sempre foi “depende”.

Então, com pouca ou nenhuma teoria, eu aprendi a sentir a tatuagem.

Quando percebi que eu devia parar de procurar por uma fórmula mágica, eu encontrei o caminho da minha arte: o sentir.

Claro que recomendo a busca por teoria e técnicas, para uma boa execução na tattoo.

Mas, para ir além do “mais do mesmo”, é preciso maior profundidade na busca.

Fuja dos atalhos. Tenha dedicação e ética. Encontre o que faz sentido para você em sua arte. Extraia disso o que te representa.

Assim você começará a construir a sua identidade artística.



Texto escrito por Denis Noveli
Tatuagens: Denis Noveli
Acompanhe o artista aqui: https://www.instagram.com/denisnoveli






Nicole Ognibeni
Nicole Ognibenihttps://tattoo2me.com
Jornalista apaixonada por novos sabores, tatuagens, viagens e animais. Vem pro meu mundo: @nicole.ognibeni / blog.tattoo2me.com

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