A geometria criativa de Dani Cunha

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Entrevistamos a artista Dani Cunha, referência no universo da tatuagem e nas artes geométricas.

Nesta matéria você vai conhecer uma artista super talentosa e dedicada que é a Dani Cunha, de São Paulo.

Desde já avisamos que se você aprecia arte de qualidade e criatividade, encontrará trabalhos muito bem executados e cores impactantes!

Sobretudo, a arte da Dani Cunha é como uma dança perfeita entre o abstrato e o mundo real.

Suas criações misturam geometria, pontilhismo, aquarela e muita técnica!

Afinal, tudo parte de um olhar curioso, atento e interessado por cada história que chega ao seu estúdio. 

Além disso, Dani Cunha se dedica ao trabalho na tatuagem há 12 anos e seu lema é:

“Não é apenas uma tatuagem!” 

Ela acredita que toda ideia é importante e seu objetivo é transformar essas ideias em arte, imprimindo ali a personalidade de cada cliente.

Atualmente, Dani comanda seu estúdio em São Paulo, o Haus Ink que fica localizado no bairro Vila Madalena.

A artista nos contou que desde pequena é fascinada pelo universo do desenho e da arte.

Na juventude, tentou outras carreiras, mas foi na tatuagem que a Dani encontrou sua grande paixão. Ou melhor, sua missão de vida!

Agora vamos lá conhecer essa história?

Dani Cunha

Quando você decidiu se tornar tatuadora e como foi sua história com a Arte?  

Dani Cunha: Minha história com a arte começa desde o primeiro dia que me lembro de pensar e existir. Nem sei o que é uma vida sem isso. 

Sempre fui aficionada por desenhar. Sempre tive materiais de desenho comigo, desde muito pequena, trocava qualquer brincadeira por um momento a sós com o lápis e o papel. 

Durante a adolescência procurei um professor de pintura que me guiou pelo caminho do óleo.

Por muitos anos, paguei minhas contas da juventude com quadros pintados a óleo que eu vendia sob encomenda.

Depois fui trabalhar com restauração de molduras antigas, até que chegou o momento de escolher uma faculdade para cursar.

Como sempre amei tudo que envolvesse criatividade, acreditei que a faculdade de moda me permitiria trabalhar com desenvolvimento e desenho, logo percebi que o mercado era extremamente fechado e muito prostituído. 

Sentia que não me encaixava naquele lugar.

Ao final da Faculdade, peguei uma única e exclusiva DP (dependência de disciplina), mas de novo, como sempre fui “porra louca” abdiquei da matéria e não peguei o diploma. Risos

Sim, por causa de uma DP por falta eu não peguei o diploma, e tudo bem.

Amo contar essa história e faria tudo novamente. 

Saindo da faculdade de moda, ingenuamente engatei em um curso de publicidade acreditando que aí sim trabalharia com criatividade e arte nas peças para os clientes.

Eu penso que somos realmente muito mal preparados para as profissões.

Por fim, desisti de pertencer ao mundo dos graduados e CLT’s quando uma amiga me sinalizou que eu poderia tatuar e ser feliz. 

Dani Cunha

“Pensei que não havia nada que eu pudesse me encaixar nesse mundo, até o dia em que tatuei a primeira vez. Aí tive certeza que queria fazer isso para sempre.”

Dani Cunha

Quem foi a pessoa que mais te apoiou e o que ela fazia?

Dani Cunha: A pessoa que mais me apoiou foi a minha amiga Ligia. Trabalhávamos juntas em uma loja de roupas e pedimos as contas.

Era um lugar muito tóxico para trabalhar. Desempregadas, decidimos vender brigadeiro na rua. Ficamos fazendo isso por um tempo mas eu estava com a ideia de tatuar e ela foi a pessoa que mais me incentivou, me apoiou, me ajudou a procurar profissionais.

Hoje nós trabalhamos juntas e eu pude ter o prazer de apoiá-la também a aprender a tatuar. 

Trabalho incrível da artista Dani Cunha

Qual foi o momento mais marcante na história da sua carreira até hoje? 

Dani Cunha: Difícil escolher um momento só, mas vamos lá.

Em 2018 sofri um assalto e levaram todos os meus materiais.

Todas as máquinas, que não eram poucas, todas as tintas, bicos, agulhas, tudo!

Mas o mais grave eram as máquinas. Imagina você ter todo o seu material de trabalho desde quando você começou, tudo customizado pra você, quase como uma extensão do seu braço, e de repente você não tem mais nada. 

Sim, foi uma tragédia, mas nas maiores crises aprendemos as lições mais valiosas.

Naquele momento entendi que eu não tinha me tornado quem eu era só pelos materiais que eu tinha. Claro que ajudam, mas quando você passa por uma experiência dessas, ter que recomeçar do zero, perder as ferramentas que já eram extensão da minha mão, foi como perder o chão.

Mas foi quando perdi o chão entendi que podia voar e nada mais poderia me parar.

Veja como as tatuagens feitas pela Dani Cunha são incríveis:

Tem alguma curiosidade em sua vida que quando você conta as pessoas se surpreendem?

Dani Cunha: Sim. As pessoas se surpreendem quando conto que em algum momento da vida quis seguir carreira acadêmica ou que eu cheguei a cursar Direito por 6 meses. Risos – De fato, até eu me surpreendo com isso. 

Como você descreve a seu processo criativo?

Dani Cunha: Meu processo não acontece espontaneamente. Não é uma ideia mirabolante que vem de repente, do nada, e eu tenho que ficar esperando acontecer.

O processo tem um método que sigo rigorosamente, que passa por uma longa conversa com o cliente no dia da sessão, tentando extrair o maximo de informações. Depois eu pesquiso incessantemente sobre o assunto para que não haja nenhum erro de contexto.

Dessa forma o desenho surge de de maneira espontânea e muito consistente com o que o cliente deseja. 

Bem como ela diz: "se não for para deixar perfeito, prefiro nem fazer".

O resultado desse trabalho? Tatuagens de tirar o fôlego! Dá uma olhada:

Quem inspira voce na tatuagem e na pintura?

Dani Cunha: Não curto muito me inspirar esteticamente em tatuadores para que não haja muita interferência no estilo, porém seria até ingênuo dizer que isso não acontece. 

Naturalmente nos inspiramos no que preenche nossos olhos. 

Chega ser injusto citar alguns poucos nomes pois são muitos os que admiro, muitas vezes me inspiro nos processos, na dedicação, na profundidade da arte, não necessariamente no desenho. 

Mas vamos lá! Na tattoo:

Victor Montaghini e sua capacidade de enxergar além do tema que o cliente trás. Sem mencionar o quanto esse homem manja de desenho. 

Jun Matsui e a verdade com que ele faz o seu trabalho. Ele respira arte, é lindo de ver o espaço dele cheio de coisas feitas por ele mesmo. É apaixonante estar lá. 

João Chaves e sua infinita capacidade técnica, a perfeição com que ele transita entre estilos e executa tudo impecavelmente. 

Torrá e sua precisão de linhas. Conhecimento de material, máquinas, estilos, a dedicação que ele tem em cada trabalho e a insatisfação eterna que faz ele entregar sempre o melhor dele para cada cliente. 

E na arte? São infinitos nomes que inspiram Dani Cunha, como:

 Antoni Gaudi, Oscar Niemeyer, Gustav Klimt, Pablo Picasso, Kandinsky e Paul Klee.

Dani Cunha

Quem são os seus clientes? Como são os hábitos deles e o que mais conversam com você?

Dani Cunha: Em geral faço tatuagens muito grandes, então fico no mínimo 8 horas com o cliente aqui. Falamos sobre tudo. Aqui não tem tabu… sexualidade, religião e politica não são um problema. Veja bem, não quer dizer que aceito neonazistas e extremistas.

Mas gosto de debater com opiniões diferentes e entender novos pontos de vista.

“Em geral o processo de tattoo é bem íntimo. Mesmo que seja uma tattoo só estética, estou marcando a pessoa para sempre, ela está sentindo dor, são muitas coisas envolvidas… a confiança acontece naturalmente e o papo flui.” 

Dani Cunha

Qual foi a história mais bonita que tatuou?

Dani Cunha: Nossa! Foram muitas!

Novamente, seria injusto mencionar uma só, mas vou contar uma que me marcou recentemente.

Uma mãe que chegou no estudio com a marca do pezinho da sua filhinha falecida no peito. O momento em que ela pôde segurar a pequena Aurora nos braços, já sem vida, e o pezinho dela ficou grudado no seu colo. 

Ela chegou aqui com a marca ainda para tatuarmos! Pode imaginar minha emoção? 

Eu sou mãe de uma menina linda, a Isa, que hoje tem 10 anos, mas já tive mais de 2 gestações interrompidas e sei muito bem como ela estava se sentindo. 

Uma mãe nunca deveria sentir essa dor! Só de contar agora as lágrimas estão escorrendo…

Choramos juntas e ela saiu daqui com a lembrança da Aurora eternizada. E eu marcada para sempre na alma. 

Essa foi a arte representando a pequena Aurora:

Arte por Dani Cunha

Qual foi a tattoo mais inusitada que você produziu?

Dani Cunha: Essa é ótima! Um rapaz que me pediu um pássaro com bico de pica-pau, rabo de fênix, corpo de galinha e cabelo de SAIYAJIN. 

Isso mesmo! Cabelo de saiyajin, do desenho dragon ball. Tudo isso no estilo cubista.

Eu obviamente falei pra ele pensar um pouco mais. Que talvez ele se arrependesse por ser muito estranho.

Eis que mais de um ano depois o rapaz me procurou novamente dizendo que tinha pensado e que queria aquilo mesmo!

Pois eu fiz com todo capricho do mundo… mas foi bem estranho. Risos

Quais são as tatuagens que mais procuram você para fazer?

Dani Cunha: Geométricas e pinceladas. Muitas pessoas também me procuram por conta das cores vivas que consigo alcançar. E não, eu não uso photoshop e não edito as cores nas fotos. 

Tento ser o mais honesta possível mesmo com tantos tatuadores por aí vendendo mentiras que nao existem! 

Quais são seus próximos planos?

Dani Cunha: Planos… A pandemia prorrogou alguns guests que eu faria na Europa em 2020, mas estou me organizando para ano que vem ou talvez esse ainda… veremos.

No momento estou cursando História da Arte Moderna no Instituto Britânico e semestre que vem está programado o ingresso na graduação em psicanálise.

Já tenho uma historia com a psicanálise mas quero aprofundar mais. 

Amo estudar, “deusolivre” parar de aprender. 

Por fim, hoje sou dona do Haus Ink e estou passando por um momento de reestruturação do estúdio, o que tem me tomado bastante tempo.

Estou muito focada em encontrar pessoas que tenham uma vibe parecida com a minha.

Sem preconceitos, sem tabus. Pelo amor de Deus, seculo XXI não dá mais pra conviver com tanta intolerância, homofobia, transfobia, machismo, racismo… chega né minha gente!

Quero profissionais que priorizem um trabalho sólido e não as modinhas que vemos por aí.

Dá pra ser diferente e ser bem feito, como eu disse sobre as cores, não preciso vender uma mentira, logo os clientes verão que muitas coisas se tornarão borrões, que anestésicos são perigosos, que não dá pra fechar um braço em 1 sessão…

Antes de encerrar nossa entrevista, precisamos dizer que a Dani Cunha é uma antiga conhecida do Tattoo2me. Desde o início do nosso trabalho, acompanhamos e admiramos sua arte e sua evolução.

Portanto, é um privilégio imenso ver de perto a trajetória de uma mulher tão incrível como a Dani.


Ela inventa e se reiventa a cada desafio, profissional e pessoal e isso nos inspira!

Dani, muito obrigada pela entrevista! Adoramos o bate-papo e é uma honra contar sua história aqui no Tattoo2me!

Por último, se você que leu até aqui, siga a artista nas redes sociais e acompanhe de perto seu trabalho!

Instagram: https://www.instagram.com/danicunha.ink/

Cidade: São Paulo

Contato: (11) 987902213

E-mail: [email protected]

Gostou dessa entrevista? 

Então leia outras histórias inspiradoras aqui no Blog do Tattoo2me! 

Até a próxima matéria!

Nicole Ognibeni
Nicole Ognibenihttps://tattoo2me.com
Jornalista apaixonada por novos sabores, tatuagens, viagens e animais. Vem pro meu mundo: @nicole.ognibeni / blog.tattoo2me.com

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