A Saúde Mental dos Artistas da Tatuagem na Era Digital: Uma Conversa com Dra. Juliana Neves

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Por uma perspectiva médica, como a constante exposição online e a pressão da criatividade constante afetam os artistas da tatuagem?

Convidamos a Dra. Juliana Neves para nos trazer insights valiosos sobre este tema.

Quem é Dra. Juliana Neves?

Dra. Juliana Neves é formada pela renomada Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com uma trajetória focada na saúde mental, a médica acumulou vasta experiência após tratar centenas de pacientes com diversas necessidades. Sua abordagem é holística, contemplando aspectos medicamentosos, comportamentais, intelectuais, simbólicos, físicos e afetivos da pessoa.

1. A Exposição nas Redes Sociais e a Saúde Mental dos Artistas

Perguntamos à Dra. Juliana sobre o impacto da constante exposição nas redes sociais na saúde mental, especialmente dos artistas da tatuagem.

“Profissionais criativos estão sob uma pressão constante”, explica Dra. Juliana. “A demanda por inovação é amplificada nas redes sociais, criando uma ansiedade de desempenho. Além disso, a comparação social incessante e os comentários negativos podem afetar profundamente a autoestima do artista.”

A Dra. enfatiza a necessidade de estabelecer limites online e sugere práticas de autocuidado, como meditação, exercícios físicos e até mesmo terapia.

2. Burnout: O Esgotamento dos Sempre “Ligados”

Burnout é mais do que apenas cansaço. É um esgotamento profundo. “Aqueles que estão sempre conectados, infelizmente, são mais propensos a este estado”, afirma Dra. Juliana. Ela destaca o excesso de trabalho, a falta de limites entre vida pessoal e profissional e o isolamento social como principais gatilhos.

“Reconhecer os sinais precoces é crucial. Se você está sentindo uma fadiga extrema, irritabilidade, insônia, ou uma diminuição do rendimento profissional, é hora de buscar ajuda.”

3. Criatividade Sufocada pela Pressão da Produtividade

Dra. Juliana nos conta que muitos artistas sentem sua criatividade sendo asfixiada pela pressão constante. “A criatividade nasce da quietude e do ócio. Em uma era de constantes notificações e demandas, encontrar esse espaço tranquilo se torna um desafio.”

4. O Desequilíbrio Entre Trabalho e Vida Pessoal

O desafio dos tatuadores é acomodar as preferências dos clientes, muitas vezes trabalhando em horários irregulares. “Essa obsessão com a produtividade e disponibilidade pode levar a um desequilíbrio grave entre trabalho e vida pessoal. Tatuadores precisam, mais do que nunca, estabelecer limites saudáveis.”

5. A Glamourização da Ocupação Constante

Dra. Juliana destaca que a sociedade atual glorifica a ideia de estar sempre ocupado. “Esse ‘culto à produtividade’ tem consequências sérias. Pode levar à fadiga crônica, isolamento e, em muitos casos, ao já mencionado burnout.”

6. Dicas Práticas para Prevenção

Para aqueles que sentem a pressão, Dra. Juliana oferece conselhos práticos: planeje seu dia, inclua tempo para descanso, estabeleça limites claros e cuide de si mesmo.

7. A Importância dos Intervalos

“É essencial levantar-se de hora em hora, beber água regularmente e evitar jejuns prolongados”, aconselha Dra. Juliana.

Confira a entrevista na integra com a Psiquiatra Juliana Neves:

1. Dra. Juliana, como a constante exposição nas redes sociais pode afetar a saúde mental dos indivíduos, especialmente aqueles que estão em profissões criativas, como artistas da tatuagem?

Pode afetar de diversas maneiras. 

Pressão pro desempenho: Profissionais criativos, como os tatuadores, são naturalmente comprimidos pela demanda de sua clientela. As redes sociais amplificam essa pressão, uma vez que a audiência espera continuamente por conteúdo de alta qualidade e inovador. Isso pode gerar a chamada ansiedade de desempenho.

Comparação Social: A conduta de muitos influenciadores e produtores de conteúdo nas redes às vezes fomenta a comparação entre os pares. Essa postura, se praticada de maneira implacável, pode afetar negativamente a autoestima do artista e levar a sentimentos de insuficiência.

Comentários Negativos e Críticas: A figura do “hater” já é bem conhecida de todos. Protegidos pela distância e pela virtualidade, algumas pessoas dizem coisas que não seriam capazes de dizer no “mano-a-mano”. Para profissionais criativos, essas críticas podem ser particularmente difíceis de lidar, pois estão relacionadas ao seu trabalho e, portanto, à sua identidade social.

Dependência Digital: O vício em redes sociais é um problema cada vez mais marcante. Profissionais criativos podem se sentir compelidos a verificar constantemente suas contas, responder comentários e mensagens, tornando-se dependentes da validação da audiência sobre si e sobre a qualidade do seu trabalho – o que obviamente não é legal. Além disso, a inquietação constante com a imagem pública e a reação das pessoas nas redes sociais pode desencadear ansiedade.

Para lidar com esses desafios e se proteger, é importante estabelecer limites nas redes, praticar a gentileza consigo mesmo, buscar apoio emocional quando necessário e considerar a possibilidade de se desconectar temporariamente, em situações mais severas. Além disso, ter uma rede de apoio off-line costuma ajudar. Práticas como a meditação, o exercício físico regular e a terapia, pode ser fundamentais para enfrentar os desafios da exposição na internet.


2. Doc Ju, você pode nos falar mais sobre o burnout? Por que profissionais que precisam estar sempre “ligados” e produtivos estão mais propensos a experimentá-lo?

Primeiro, é importante entender o que é o Burnout. Ele é um estado de esgotamento físico, emocional e mental resultante do estresse crônico relacionado ao trabalho. É caracterizado por exaustão extrema, desinteresse, apatia ou distanciamento em relação ao trabalho e uma diminuição da eficácia no desempenho das tarefas profissionais. Entenda, o burnout não é apenas uma sensação temporária de cansaço, mas sim um estado de esgotamento profundo. Profissionais que estão sempre conectados e produtivos podem ser propensos a experimentar o burnout por várias razões.

Excesso de Trabalho: A necessidade de estar sempre conectado pode levar a uma carga de trabalho dupla e excessiva. Além da execução das tarefas no exercício da profissão propriamente dita, os artistas que estão constantemente disponíveis para responder a mensagens de trabalho, e-mails e demandas online podem trabalhar longas horas, incluindo noites e fins de semana, sem tempo adequado para descanso e recuperação.

Falta de Limites Claros: O fenômeno da rede social, embora muito útil sob certos aspectos, praticamente apagou as fronteiras entre o trabalho e a vida pessoal. Profissionais quem têm presença no digital podem se sentir obrigados a estar sempre conectados e disponíveis, o que dificulta momentos de relaxamento e descanso (necessários).

Isolamento Social: O foco constante no trabalho e na conectividade pode levar ao isolamento na vida real, gerando afastamento de amigos e familiares devido à falta de tempo e energia para interações mais profundas.

É importante reconhecer os sinais precoces de burnout. Fadiga extrema, irritabilidade, insônia, falta de concentração, ineficiência no trabalho e sentimentos de desesperança são alguns deles. Se você se identifica, pense em procurar ajuda especializada. Um bom psiquiatra implementará estratégias para manejar o estresse, estabelecer limites saudáveis e buscar equilíbrio entre trabalho e vida pessoal.



3. Doc, em sua experiência clínica, você já encontrou artistas ou profissionais criativos que sentiram que sua criatividade estava sendo sufocada pela pressão de estar constantemente produtivos ou visíveis?

Claro. O exercício profissional que envolve criatividade exige uma coisinha chamada ócio. Essa palavrinha mal quista nos dias de hoje é importante para aqueles que trabalham com arte. A criatividade é resultado da articulação de elementos presentes no repertório da nossa memória com os elementos presentes na nossa imaginação e, sem silêncio e um pouco de ócio, fazer essa articulação para gerar algo novo é praticamente impossível.

4. Dra., como o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal pode ser afetado pela obsessão com a produtividade? E por que isso é particularmente relevante para artistas da tatuagem que frequentemente trabalham em horários irregulares e sob demanda dos clientes?

Tatuadores muitas vezes, para acomodar as preferências dos clientes, têm horários de trabalho que incluem noites e fins de semana. A necessidade de produtividade pode levar o artista a ceder constantemente às demandas, mesmo fora do horário de trabalho planejado. Essa irregularidade torna difícil estabelecer uma rotina consistente e que contemple os compromissos pessoais, como tempo em família e amigos.

5. Doc, a sociedade tende a glorificar a “ocupação constante”. Como isso pode impactar negativamente a saúde mental e física de um indivíduo?

O “culto à produtividade” tem impactos graves. A glamourização da “hiperocupação” eleva muito os níveis de estresse e ansiedade. Isso tem íntima relação com tudo o que já foi dito anteriormente. A pressão para realizar sempre mais é incompatível com os limites humanos e acaba resultando em sobrecarga. Dentro desse balaio está também a falta de descanso apropriado. Horas de sono insuficientes e a ausência de momentos de relaxamento levam à fadiga crônica e à diminuição do bem-estar físico e mental. A falta de tempo para atividades de lazer e bem-estar, contato com amigos e família, tudo isso somado gera alto risco para Burnout, como já falamos.

Além disso, pela natureza do próprio exercício profissional, tatuadores costumam trabalhar longas horas seguidas, muitas vezes em posições pouco (ou nada) ergonômicas, levando à exaustão física, também. Isso os torna mais propensos a adquirirem doenças osteoarticulares (hérnias, dores lombares, cervicais etc).

6. Dra. Juliana, você poderia dar algumas dicas práticas para artistas da tatuagem ou outros profissionais que sentem que estão à beira do burnout ou que estão lutando para manter sua criatividade em meio à agitação diária?

Tenha um Roteiro: Sem roteiro o personagem ficará entregue à própria sorte no palco da vida. Faça um planejamento do que você pretende para o dia, para a semana, para o mês e para os anos. Assim, você saberá exatamente se está andando em direção ao que deseja ou não. Cada ato seu de agora deve ser compatível com o seu roteiro inteiro.

Equilibre a Agenda: Inclua no seu planejamento tempo suficiente para o trabalho, a vida pessoal e o descanso. Inclua na programação dias de folga regulares e priorize tempo para atividades pessoais.

Estabeleça Limites (pra si mesmo e pros outros): Definir limites de horários de trabalho e comunicação com os clientes é importante pra preservar o seu tempo e também para manter uma relação saudável com eles..

Cuide de Si: Dedique tempo para atividades que ajudem a reduzir o estresse e a promover o bem-estar, como exercícios, meditação e hobbies pessoais.

Faça parte de uma tribo: Falar com colegas da área pode ajudar a compartilhar experiências e estratégias para equilibrar o trabalho e a vida pessoal de maneira sadia.

7. Doc Ju, sobre a importância dos intervalos: muitos artistas da tatuagem frequentemente trabalham em sessões longas e intensas. Qual seria sua recomendação para eles em termos de pausas e cuidados com a saúde mental durante essas maratonas de trabalho?

Levante-se de hora em hora. Você e o cliente precisam de uma pausa. Não levará mais de 1 minuto: caminhe, se alongue, movimente joelhos, quadris, coluna e volte ao trabalho.

Beba água! As células do nosso corpo (neurônios, inclusive), têm cerca de 70 a 90% do seu volume composto por água! Então, se você faz aquele xixi amarelão é sinal de que suas pobres células estão fazendo esforço máximo para trabalharem no “deserto do Saara”. Beba água o suficiente pra que sua urina seja sempre clara e você se sentirá até mais bem disposto.

Saco vazio não para em pé. Você precisa de energia para trabalhar, então evite jejuns prolongados. O corpo humano identifica o jejum como uma ameaça e dispara sinalizações para ativar os circuitos de ansiedade, deixando você mais nervoso, cansado, irritado, impaciente e angustiado. Deu fome? Pare um pouquinho e coma alguma coisinha leve e rápida.

Só fazendo essas 3 coisas a qualidade do seu dia já será bem melhor.

8. Finalmente, Dra., para aqueles artistas da tatuagem que estão lendo esta entrevista e que talvez estejam se sentindo esgotados ou sobrecarregados, que mensagem ou conselho você gostaria de transmitir?

Você não precisa levar a vida carregando todo esse peso. Procure ajuda especializada para conduzir você num caminho melhor de gerenciamento do stress e tratamentos dos danos já causados, caso existam. As coisas podem voltar a ser boas, como eram antes.


Se ficaram tão encantados com a Dra. Juliana quanto eu, Nicole, fiquei, então vocês vão querer entrar em contato com ela. Pra quem quer mergulhar mais fundo no universo da saúde mental ou mesmo bater um papo com a Doc, aqui vai a dica: sigam ela no Instagram @juliana.duneves.

E para os que estão pensando “Nicole, eu tô precisando MESMO é de uma consulta”, a Dra. Juliana atende tanto presencialmente quanto online. É só chamar no whatsapp dela pelo número (21) 97444-5757 e você vai conversar direto com a assistente dela. Ah! E além das consultas, ela ainda faz palestras, workshops, e até tem um programa de imersão chamado AmadureSer. Chique, né?

E pra quem, assim como eu, AMA um bom conteúdo online, ela recomendou o perfil dela!

Então é isso, pessoal! Todos os links e infos estão na bio do perfil dela no Instagram. Dá uma passada lá, vale super a pena! Cuide-se e lembre-se: a mente precisa de carinho tanto quanto o corpo. Até a próxima!

Nicole Ognibeni
Nicole Ognibenihttps://tattoo2me.com
Jornalista apaixonada por novos sabores, tatuagens, viagens e animais. Vem pro meu mundo: @nicole.ognibeni / blog.tattoo2me.com

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