Entrevista super especial que fiz com Adénere, e que irá fazer você se apaixonar pelo trabalho lindo que ela desenvolve na tatuagem.
O Tattoo2me está iniciando uma série de entrevistas com artistas reais, com histórias reais, que poderia ser a minha, ou a sua.
Buscamos heróis na mídia, heroínas super famosas, mas esquecemos que ao nosso lado tem pessoas incríveis para passar conhecimento e mostrar seu trabalho.
Aproveite a leitura e a história da artista Adénere:
Comecei perguntando para Adénere quem ela era, afinal, antes da nossa profissão somos tantas coisas, importante não nos definirmos apenas pelo nosso diploma ou cursos.
Quem é Adénere?
“Bom, meu nome de batismo é Anney, mas gosto de ser chamada pelo meu nome de iniciação no candomblé, Adénere. Sou filha do Orisa Oya, Edkeji de Osala, iniciada há 3 anos.
Eu nasci em Guarulhos, porém tive uma infância cheia de idas e vindas, parte dela foi no interior de São Paulo mais especificamente Pres. Prudente. Me lembro que na escola eu sempre ganhava as competições relacionadas a artes… acho que estava no caminho certo?! Ao todo nunca tive muitos sonhos ou expectativas na infância, por motivos que foi um período bem turbulento, não só a infância, mas até os meus 20 anos, minha vida começou a ir para “águas mais calmas” agora aos 30.”
Quando a arte e a tatuagem chegaram
“Acredito que de certa forma a tatuagem sempre esteve presente comigo. A arte sempre foi algo que amo demais, me lembro que me auto desenhava. Mas, como sempre gostei de música e tinha até bandas, via alguns amigos tatuados e aquilo me gerava grande interesse e foi quando resolvi fazer minha primeira tattoo, e sofri o racismo de “não vai ficar bom na sua pele”, ele até chegou me machucar. Desde então tive a vontade de mudar esse quadro e fazer a diferença para os meus.“
Arte autoral
“Na verdade, a arte autoral é algo que sempre deixo muito visível, mas sempre vejo as referências dos meus clientes e pergunto se posso criar algo dentro disso, mostro o rascunho da arte e o cliente vê o que gostou, o que gostaria de mudar. Eu sempre falo que o processo criativo, na verdade, é junto, eu sou apenas o “interprete” da ocasião.”
Clientes
“Eu acredito que 1% ao dia eu consigo atingir minha meta, porque isso?! Meu público são os meus, quando digo os meus, são pessoas pretas! Muitos chegam até a mim sem o medo riscar a pele, de eternizar algo que queria a tanto tempo. Inclusive, tenho muitos clientes acimas +40 que tatuaram comigo porque consegui passar a confiança que a pele preta não existe e nunca existiu isso de “não se deve tatuar”. Grande parte dos meus clientes também me procuram para artes voltada a ancestralidade.”
Além da Tatuagem
“Acho que o mundo artístico é tão vasto que praticamente diariamente eu passo por desafio novo, um outro modo de ver as coisas e até mesmo de se trabalhar. Espero um dia ter mais condições financeiras pra fazer mais estudos, workshop, troca de material, entre outros.”
História Marcante
“Uma cliente muito querida, a Elis, quis tatuar uma árvore com a letra da música do Emicida. É uma arte onde conta sua força na luta contra o câncer que ela venceu. O forte dessa história e arte é que minha cliente passou por 174 quimioterapias. Dias depois ela me manda um áudio muito emocionante me contando essa história e dizendo que na arte tinha exatamente 174 linhas, até então não sabia essa parte da história dela, muito menos que na arte tinha exatamente o mesmo número. Foi algo bem marcante pra mim.”
Estilo de tattoo que faria
“Futuramente pretendo fazer estudos para realismo de animais preto e cinza, acredito que vai agregar bastante dentro da arte que eu crio.”
Viagens para tatuar
“É um grande sonho na verdade. Pra vocês terem uma ideia eu nunca sai do estado de São Paulo, nem a passeio. Poder tatuar nos quatro cantos do Brasil é grande sonho.”
Perguntei para a Adénere com quem ela gostaria de trabalhar no futuro para um projeto em colaboração:
Collabs para o futuro
Uma mulher preta, grande artista e percussionista Larissa Umaytá, além dela ser incrível em todas os sentidos, ela traz a tão em falta representatividade.
Admiração na tatuagem
“A Índia tattoo @_indiatattoo. Ela além de ter um trabalho impecável, ela traz a história da tattoo verdadeira, reparem, existe a história da tattoo colonizada e tem a verdadeira origem. Ela ensina, resgata nossa história, não é apenas uma tatuadora, mas sim uma grande professora da arte.”
Legado
“Eu sempre observei que no mundo da tattoo além do racismo com a pele preta, existe o racismo artístico. Você quase não achava rostos pretos, indígenas, nas artes… Se você fosse pesquisar uma mulher indígena, você acha muito mais mulheres brancas com a cara pintada, isso não é indígena e nem representativo… E até hoje infelizmente se vê isso. Eu quero que meu povo seja referência, esteja nas artes, quero que a mulher preta seja cada vez mais vista na arte e na pele.”
Vai fazer uma tatuagem? Olha essa dica:
“Não procurem preço, conheçam o artista! Antes de entregar sua pele conheça melhor o artista, como essa pessoa trabalha, qual é o seu público, leia sobre o artista, faça perguntas.
Cuidem também da pele de vocês antes da tattoo, hidratem e se hidratem, ter cuidados antes e depois traz um resultado melhor para sua nova tattoo.”
Plano pro futuro
“Esse ano será mais voltado a estudos, novas oportunidades e estilos. Vou sair do home estúdio, caso não consiga entrar em algum estúdio aqui em São Paulo, vou abrir meu próprio espaço, nem que seja com passo de formiguinhas!
Agradeço a cada um que chegou até aqui, que quis conhecer um pouco mais dessa tatuadora preta, independente, caminhão e candomblecista! Aqueles que tiverem mais interesse sobre meu trabalho, até me conhecer mesmo, vocês podem me achar nas redes: instagram: @adenere.tattoo, Twitter: @anneypw, Facebook: Adénere Pinheiro
Ase a todos! Gratidão.”
Saiba mais 👇🏽
Gostaria de agradecer a Adénere pela entrevista, e convidar todos vocês para conhecer o trabalho dela de pertinho e acompanhar seus próximos passos.
Como ela mesma falou: Em breve ela está nesses 4 cantos do Brasil!