Representatividade na tatuagem: chegou a hora. Não dá mais para esperar ou adiar! Vocês estão prontos para conhecer artistas brasileiros?
Iniciarei uma série de entrevistas com artistas pelo Brasil, a primeira entrevista é com o artista Dimak, que recentemente saiu na matéria de Salvador aqui no blog do Tattoo2me.
Acredito que todos somos artesões, e ao acompanhar o trabalho do Dimak, me apaixonei por suas iniciativas como artesão e artista, além de falar gentilmente em seu instagram conscientizando e educando sobre arte autoral, e claro representatividade.
Vem que essa entrevista está linda demais, e irá inspirar você a criar e também colaborar com os projetos de outros artistas:
Comecei perguntando para o Dimak como iniciou sua carreira artística:
Dimak: Desde criança eu já tinha uma certa aptidão para o desenho e no início da adolescência eu queria ser desenhista de histórias em quadrinhos de super-heróis, mas com o tempo percebi que esse sonho estava um pouco distante da minha realidade, então abortei essa missão.
Em seguida descobri a pixação e fiquei pixando durante alguns anos até descobrir a cultura hip-hop onde me apaixonei pelo pelos quatro elementos em especial o graffite e o mc, pouco tempo depois acabei descobrindo que alguns dos grafiteiros que eram minhas referências e também eram tatuadores como Márcio Duarte Marcão, Ranho, Bits, Cubano e Marcone.
Percebi que era possível levar mesmo estilo que eu já fazia no graffite para tatuagem.
Então eu caí de cabeça nesse universo, em paralelo cursei por um tempo a escola de belas artes (ufba), mas eu acabei abandonando, mas continuei fazendo graffiti, pintura em tela e alguns freela de ilustração para algumas marcas roupas mais underground e faço um som de vez em quando.”
O que é representatividade na tatuagem para você?
Dimak: Sobre esse assunto é uma coisa que surgiu naturalmente observado o mundo da tatuagem onde existem estilos que são heranças culturais de alguns países e que não necessariamente quem está executando e quem está sendo tatuado fazem parte daquela cultura.
Temos bons tatuadores do estilo oriental que não são asiáticos, temos bons tatuadores de maori e que também não fazem parte da Oceania.
Partindo dessa ideia e sabendo que moro na cidade mais preta fora da África, comecei trazer para o meu trabalho elementos da minha ancestralidade e mesmo tendo uma identidade e herança ancestral interrompida, me vejo como uma pessoa preta e que possui ancestralidade de origem africana mesmo nascendo no Brasil.
Essa foi a forma que encontrei para afirmar isso e quando trago para o meu trabalho representações de pessoas pretas e de orixás, trago essa representatividade à tona, também do pertencimento onde pessoa está fazendo a tatuagem ou quem está sendo tatuado, tem uma relação direta com uma cultura e ancestralidade que estão sendo representadas nesses trabalhos.
Como é sua conversa com o cliente sobre ter uma arte autoral e não uma cópia da internet ou de outro artista?
Dimak: Hoje em dia a porcentagem de pessoas que vem com imagens da internet a procura do meu trabalho é bem menor, apesar que foi uma caminhada árdua até chegar ao ponto das pessoas entenderem de fato como é o meu trabalho funciona.
E mesmo o cliente apresentando uma foto de uma tatuagem que acabou pegando na internet eu consigo mostrar que é possível pegar um tema clichê, dar outra perspectiva e com identidade.
Como é seu processo criativo na construção da tatuagem?
Dimak: A princípio o cliente vem com a ideia básica do desenho que ele quer no corpo e a partir desse ponto, trocamos uma ideia, que acaba sendo um ‘brainstorm’ criativo para o coletar todas as informações necessárias para a criação do desenho.
Após ter todas as informações, dou início a criação dos sketches (esboço), às vezes sai de primeira, às vezes não. Faço quantos sketches for necessário, porque sempre que crio o desenho para um cliente penso como fosse uma tatuagem minha.
E depois e ter feito o sketch de forma satisfatória apresento ao cliente, ele aprovando ou pedindo alguns ajustes, realizo a arte final e na sequência o agendamento.
Como é seu processo criativo com a pintura, quais são suas influências?
Dimak: Sobre a pintura, tatuagem ilustração e grafite enxergo todas essas manifestações como uma coisa só, estão todas linkadas. Só muda a ferramenta e o suporte, mas a base de criação para cada uma delas acaba se tornando igual, a diferença são mínimas.
Sobre minhas referências, são muitas, não dá para relacionar aqui, mas toda minha vivência nas ruas tendo como pano de fundo do universo ‘underground’ que acontece na minha cidade, que vai do metal, punk, da cultura soundsistem, rap, pichação e graffite.
Tudo isso tem um impacto enorme na minha forma de ver o mundo e na minha formação enquanto artista.
Consequentemente influenciam na minha forma de criação, e de uns anos para cá a espiritualidade também tem sido muito presente e naturalmente vai se encaixando em meu trabalho.
Como encomendar uma arte com você?
Dimak: É muito simples, já chegar no direct do Instagram ou então link do WhatsApp na bio da minha página do Instagram trocar ideia comigo para o que seja, tatuagem, grafite para pintura em tela ou ilustração.
Fale com o Dimak aqui no whatsapp ou no instagram.
Qual história tatuou que mais fez diferença para você? O que era?
Dimak: A tatuagem que mais me marcou foi de uma senhora que nos seus 60 e poucos anos, ela quis simbolizar com uma tatuagem a vitória que ela teve contra o câncer, depois disso ela fez outras tatuagens.
Qual o estilo de tatuagem que não é o que faz, mas gostaria de fazer alguns projetos?
Dimak: O estilo que ainda não fiz tatuagem e gostaria de fazer é blackout.
Blackout acho impactante, inclusive tenho no meu corpo onde fiz o design e um colega que executou. Gosto do impacto que esse estilo traz que vai além da tatuagem.
Você tem pretensão de fazer guests e visitar outros estados e países para levar sua arte? Se sim, quais?
Dimak: Tenho sim, inclusive eu tinha um planejamento de fazer guest em São Paulo no segundo semestre 2020, mas veio esse período pandemia e tive que engavetar essa missão. Mas estou aguardando 2021 encerrar e iniciar 2022 e tirar esse projeto da gaveta e tentar ir para São Paulo, Rio, Minas ou qualquer outro lugar que apareçam possibilidades de colar.
O que é a Arte Bastarda? De onde surgiu esse projeto? Como adquirir os produtos?
Dimak: Arte bastarda é a marca que criei a pelo menos uns 10 anos atrás, depois de outras tentativas não bem sucedida de colocar uma marca nas ruas.
Eu fiz um filtro entre acertos e erros e investi de novo em uma nova marca e que para mim, acabou dando certo.
Arte Bastarda dá referência a um estilo de vida e está sempre ligado a toda manifestação artística que não passou por uma escola, por uma academia ou ter um diploma para ser legitimado.
Temos exemplos da cultura hip-hop, capoeira a própria tatuagem, mas quando falo que não passou por uma academia eu me refiro a sua base, a essência o seu surgimento que não teve uma formação acadêmica.
Hoje em dia encontramos workshops, cursos de tatuagem, escola de capoeira, dentro da cultura hip-hop também tem várias oficinas, mas quando falo de como e onde surgiu e que não teve nenhum apoio nenhum patrocínio, considero essa manifestação de arte como bastarda, e essa é a intenção da marca.
Quem tiver interessado só colar no Instagram da arte bastarda e seguir e ficar atento aos lançamentos.
Instagram: https://www.instagram.com/arte_bastarda/
Dimak, quero agradecer demais aceitar a entrevista e por fim, qual dica você daria para quem está iniciando na tatuagem como artista:
Dimak: Um conselho que dou todas as pessoas que querem entrar para o mundo da tatuagem é ter um pouco de paciência disciplina e não negligenciar nenhum dos processos de aprendizado, não querer entrar na tatuagem visando apenas retorno financeiro, conhecer o conceito histórico da tatuagem e trabalhar para ter identidade nesse universo.
E ai, o que você achou dessa entrevista com o artista Dimak? Deixe um comentário no Instagram dele e continue acompanhando o trabalho dele e as novidades que podem vir ai!
Dimak
Cidade: Salvador | Bahia
Contato: (71) 99239-5383
@d.i.m.a.k
Com 14 anos de experiência e vivência no universo da tatuagem, Dimak apresenta um trabalho com identidade, força e relevância, onde traz referências do graffiti, caligrafia e representatividade afrodescendente.
Até o próximo texto!
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