Olá, pessoal, tudo certinho?
Esse texto foi pensado para contar uma experiência incrível que tive no final do ano passado e cujo relato que fiz no meu Instagram, acabou me aproximando do Tattoo2me e, cá estou escrevendo pra vocês. Que seja um divisor de águas para tatuadores e leitores, assim como foi pra minha trajetória.
Quantas pessoas apaixonadas por tatuagem você conhece? E quantas delas já expressaram o desejo de fazer uma tattoo e, de repente foram desencorajadas pela família, ou mesmo por algum artista, por receios e algumas questões de visão. Gostaria de dividir com vocês um caso que me fez enxergar de outra forma a tatuagem em pessoas com deficiência (PCD).
Depois de tatuar uma cliente, ela me contou que tinha uma amiga com uma irmã portadora da Síndrome de Down que gostaria de fazer uma tatuagem para comemorar o aniversário de 37 anos. Inicialmente tive certo receio e alguns questionamentos. Resolvi pesquisar sobre algum tipo de limitação ou implicação em relação à tatuagem e quais critérios para tatuar ou não. E entendo como uma análise de caso a caso, cada vez que me surgir essa demanda. O que descobri é que não é uma doença, mas uma condição que é identificada, principalmente por características físicas, de formação genética, que nada tem a ver com a consciência ou capacidade intelectual do indivíduo. Portanto, não existe tratamento e sim o fator inclusivo e multidisciplinar para proporcionar inclusão e qualidade de vida.
Se de fato não existe nenhuma implicação na consciência ou vulnerabilidade física, por que não fazer? Aí, tive um insight e pesquisei na literatura quais seriam as características motoras ou de sensibilidade do portador da síndrome: hipotonia (músculos moles), hipersensibilidade (maior propensão à sentir dor). Algo que, provavelmente não acomete apenas portadores da síndrome e pode variar de pessoa para pessoa. Inclusão é muito mais sobre igualdade do que sobre as diferenças. Nesse caso, concluímos que não existe limitação de consciência nem vulnerabilidade física ou risco de saúde por imunidade, nada nesse sentido. A família estava presente e autorizou, então chegou o grande dia de tatuar a Beatriz. :))
Foi uma das sessões mais emocionantes que tive até hoje na vida, sem exagero. Ver a Bia comemorando pelo estúdio, dizendo que me adorava, que amou muito e que eu realizei o maior sonho da vida dela. Nossa, foi muito emocionante. Não vou esquecer ela fazendo vídeo chamada: “Mãe, consegui, vitória!”. A Bia nem sabe, mas depois que acabou, eu também queria ligar pra minha mãe e fazer isso, super me identifiquei! Foi uma tattoo muito pequena, mas o desafio foi enorme! E nem consigo descrever como eu ampliei minha visão. Essa experiência mudou demais a minha forma de encarar o processo da tatuagem, e isso eu serei eternamente grata à Bia e todos os envolvidos.
Existem momentos únicos e mais do que especiais, como fazer a primeira tattoo da Bia e ver a superação e a alegria de ter seu sonho realizado. O presente de aniversário era dela, mas eu também fui contemplada ao presenciar esse momento e conhecer essa pessoa fantástica que comoveu todos com seu afeto e pureza incondicionais.
Prezo pelo atendimento humanizado, com total biossegurança e conforto. Eu não ofereço apenas a tatuagem, cada sessão é uma experiência única. Também me emociono, troco vivências, sou grata. E isso não tem preço.
E você, já teve alguma experiência mais do que especial? Conta pra mim, vai ser muito bacana saber mais sobre experiências de tatuagem inclusiva. Precisamos abrir mais diálogos sobre esse tema.
*Monique Barcellos é jornalista, tatuadora e ilustradora do Rio de Janeiro.