Por Monique Barcellos*
Vamos falar sobre fototipos?
É um assunto fundamental para profissionais que lidam diariamente com pessoas e suas peles.
Trouxe esse conteúdo para você, seja cliente ou artista a entender que a tatuagem é muito mais do que um desenho na pele ou um processo artístico.
Na verdade, podemos dizer que a tatuagem em si é a parte mais “fácil”. Você, profissional da Tatuagem, já ouviu falar em fototipos?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, existem 6 Fototipos (uma escala de classificação numérica dada para a reação de cada pele quando exposta ao sol e raios UV), criada em 1975 por Thomas B. Fitzpatrick e é conhecida hoje como Tabela de Fitzpatrick.
Vale ressaltar ser um procedimento invasivo que, além do processo da tatuagem em si, exige alguma noção em anatomia, dermatologia, imunologia, biossegurança, até farmacologia.
Como os fototipos podem influenciar na tatuagem?
Na parte de dermatologia, é interessante o profissional da tatuagem saber o básico sobre: fototipo, fundo de pele (cor predominante, verde, vermelho, amarelo ou azulado), subtons (quente e frio) e cada tipo de pele (seca, normal, oleosa e mista) para pigmentar e, principalmente, elaborar sua arte adequadamente e especificamente para cada fototipo.
A escala de Fitzpatrick é referência para a maioria dos profissionais, desde a moda até a estética, já que cada pele tem suas diferenças e exige um cuidado específico. E se você tatua e nunca estudou fototipos e seus desdobramentos, tá na hora de se ligar!
NÃO EXISTE PELE “RUIM DE TATUAR“
Ao abordarmos sobre os tipos de pele e fototipos na tatuagem chegamos a uma reflexão bem mais séria.
Estamos em 2022 e devemos entender que não existe “pele ruim” para tatuar.
Assim como não existe “cabelo ruim”.
Compreende o teor racista desse tipo de afirmação?
O que deve existir é um profissional capacitado para atender e proceder com TODOS os tipos de pele.
Eu, Monique, sou fototipo 4 (tom médio e fundo amarelo) e já ouvi tatuador dizer que eu tinha a pele “ruim de tatuar”.
E percebo que essa discriminação, de alguma forma, foi normalizada na tatuagem, o que é preocupante.
Ao estudar o fototipo abrem-se novas possibilidades e horizontes para a nossa arte até como forma de democratizar a tatuagem.
As fotos acima são da incrível fotógrafa: @paulalavrador
Precisamos falar sobre o RACISM0 estrutural na Tatuagem
No mundo em que vivemos, o óbvio precisa ser dito. É preciso conscientizar e considerar até que ponto a tatuagem ficar bonita ou não parte de uma avaliação técnica do profissional, conhecimento real sobre fototipos para perceber qual estilo de tatuagem se encaixa melhor em cada tipo de pele.
Ou, simplesmente, seguir o senso comum onde está enraizada a ideia de que tatuagem só fica “bonita” em pele clara. Consegue distinguir?
Ultimamente, tenho atendido clientes com fototipo 5 e 6, alegando sobre si mesmas, que a pele “não seria boa para tatuar” e o maior medo: se a tatuagem ficaria “legal” no tipo de pele delas.
Na minha visão, pessoas com peles mais pigmentadas devem ter um tratamento diferenciado sim, porém isso cabe a cada fototipo, tipo e fundo de pele. E, de forma alguma significa que sejam fototipos piores ou melhores. Isso tem a ver com preconceito na sociedade em que vivemos.
Que tipo de pele NÃO tatuar sem avaliação prévia?
O único tipo de pele que não deve ser tatuada em uma primeira avaliação é aquela com alguma condição clínica que ofereça riscos para o cliente ou comprometa a cicatrização e altere no resultado da tatuagem: albinismo, vitiligo, psoríase, microvasos, varizes, cicatrizes recentes, entre outros casos.
Nesses casos, o profissional pode e deve adotar um atendimento mediante atestado médico e avaliação de um dermatologista. Fora isso, a tatuagem adequada para cada tipo de pele deve ser elaborada pelo profissional, através do estudo de fototipos, subtons e tipos de pele.
Portanto, nunca mais acredite que pele preta ou média é “ruim de tatuar”. Procure profissionais capacitados.
Comente o que você achou do tema. Conhecia fototipos? Já passou por algo parecido, ou você mesmo(a) já pensou isso sobre sua pele?
- * Monique Barcellos é jornalista e tatuadora do Rio de Janeiro.