Para além da estética, ressignificam uma marca traumática
Qual é a sensação da mulher quando descobre um câncer de mama? Uma belíssima música de Chico César diz: “eu sei como pisar no coração de uma mulher, já fui mulher, eu sei”. O câncer de mama é um pisão muito forte no coração e na autoestima das mulheres. Muitas ficam fragilizadas e inseguras com as consequências da doença e os tratamentos mais invasivos, como a mastectomia.
Os dados são muito tristes, já que o câncer de mama é o segundo tipo mais comum da doença no mundo. Sendo superado por muito pouco pelo câncer de pulmão. O tratamento inclui quimioterapia ou radioterapia, cirurgia para retirada do tumor e muitas vezes a mastectomia, a retirada total da mama. Após momentos de medo e angústia, será possível esquecer as marcas da retirada de uma mama? As tatuagens que cobrem a cicatriz são verdadeiras obras de arte, que devolvem a dignidade de muita gente.
Micropigmentação
A micropigmentação paramédica não é a mesma coisa das tatuagens que cobrem a cicatriz. Pois ela tem o propósito de simular a aparência dos mamilos e das auréolas e pode ser realizada por profissionais de estética, fisioterapeutas e alguns médicos especializados. Não são permanentes, e precisarão ser refeitas após um certo tempo. Já a tatuagem que cobre a cicatriz é um trabalho artístico feito por um tatuador, visando ressignificar uma marca traumática para as mulheres.
Um outro lado da dor
Mulheres que precisaram retirar a mama relatam uma dor psicológica imensa, um sentimento de mutilação que revisita o sofrimento do câncer a cada olhada no espelho. Pensando nessas marcas dolorosas, tatuadores começaram a fazer desenhos na região, para trazer um pouco de poesia às marcas de uma guerra onde não foi fácil vencer.
As tatuagens que cobrem a cicatriz não estão lá apenas para disfarçar a ausência do seio, estão ali para contar uma história de luta, dor e vitória. Por isso, os elementos utilizados variam muito conforme a trajetória e os símbolos que mobilizam cada mulher. Algumas optam por flores, asas, árvores, frases e até desenhos que simulam um sutiã. Há quem opte por uma tatuagem que simule as auréolas e o bico do peito, que ficam muito realistas e são permanentes. O importante é encontrar um tatuador competente, com boas referências, que já tenha feito trabalhos semelhantes.
Ajuda para continuar
Após o grande trauma do tratamento e a retirada dos seios, a vida não volta ao normal em um piscar de olhos, como muitas mulheres desejariam; infelizmente, o processo é longo, e requer muita ajuda para retomar as forças do corpo e da mente. O pós-cirurgia requer uso de remédios e suplementos alimentares, além de auxílio psicológico.
As cicatrizes são histórias, assim como as tatuagens, mas como disse o professor da Califórnia, Tim Hansel, “a dor é inevitável, mas o sofrimento é opcional”. A escolha de ressignificar a dor é um desejo de seguir adiante, sem negar o que passou, honrando a transformação conquistada.