A humanidade sempre se utilizou da imagem para contar a sua História, seja através do desenho nas paredes das cavernas, pinturas corporais ou símbolos em um papel. Sabemos que não é por acaso que a maioria das pessoas escolhem atribuir ao corpo tatuagens que representam algo para si, como uma lembrança, um elo com o passado, sua identidade na pele. Nossa sociedade sempre foi baseada pela busca ao pertencimento, no qual nos organizamos em grupos que nos identificamos.
Esses grupos são definidos como Tribos, por Michel Maffesoli, pois, para ele: “antes de ser político, econômico ou social, o tribalismo é um fenômeno cultural”. (2010, pág. 06). Em diversas culturas ancestrais elementos gráficos são comuns seja em objetos ou impressos na pele.
Segundo o The World Atlas Of Tattoo (2015) em meados da década de 90, surgiu uma variedade impressionante de novos gêneros de tatuagem como revitalizações, reinvenções e continuações das tradições indígenas. “O resultado é uma cultura global de tatuagens rica em raízes históricas e repleta de inovações contemporâneas” (2015, pág. 9)*
No Brasil, as pinturas corporais indígenas são relacionadas a rituais místicos e organizações sociais, o livro Arte no Brasil (1979, pág. 18) cita estudo do antropólogo francês Lévy-Strauss, onde ele identifica tribos que habitavam o Pantanal e utilizavam pinturas corporais como forma elaborada e distintas de categorizar subgrupos organizados por idade e sexo.
“Os desenhos nunca coincidem com alguma estrutura ou simetria do corpo humano – ao contrário, rompem com elas; o rosto é esquadrado como cartas de baralho, as linhas diagonais cruzam os lábios e o nariz negando-os, como se estes não existissem”. (ARTE NO BRASIL, 1979, pág.18)
O livro também cita o diálogo entre um religioso do século XVIII e um indígena, onde o religioso pergunta o porquê os integrantes dessa tribo se pintavam, em resposta ele retruca “E você, por que não se pinta? Quer se parecer com os bichos?” (ARTE NO BRASIL, 1979, pág.18).
Esse diálogo me fez refletir sobre os significados atuais das nossas tatuagens, em que grupos buscamos pertencer ou nos diferenciar, a cada dia que passa é provado que podemos unir estilos e histórias à novas técnicas, muitas vezes ainda indefinidas, mas seja lá qual for a técnica escolhida por nós, ela não estará alheia a nossa bagagem cultural ou histórica, entrelaçada em nossas memórias.
Compreendo que é possível buscar no passado ancestral e na nossa formação cultural elementos de diferenciação entre nós, artistas, que possam encantar pessoas diversas que necessariamente não compartilham o que nós vivemos, mas que tem identidade com o que nós acreditamos e desejam pertencem a nossa tribo, pois cada um é capaz determinar elementos vigentes na sua arte que unificam pessoas desconhecidas e definem um identidade na qual outras desejam pertencer e questiono aos meus colegas de trabalho:
o que definirá a sua tribo?
Sou Olga Garcia, paraense e especialista em Moda na área de pesquisa e criação desde 2013. Na faculdade me apaixonei por estampas e desde então comecei a empreender na minha própria marcas de roupa, em 2019 veio o start para estampar novas superfícies e a partir dai a tatuagem ganhou um significado diferente na minha vida.
Minhas referencia criativas são uma mistura de cultura pop tecnológica com a ancestralidade amazônica. Pra saber um pouquinho mais sobre mim vocês podem me encontrar no meu Instagram: @olgarcia.art https://www.instagram.com/olgarcia.art/ ou no meu blog pessoal: https://olgarciaart.wixsite.com/historiasestampadas/blog