Mariana Kuroyama nasceu em Brasília, cresceu em Fortaleza e atualmente reside em São Paulo. A artista tatua há, aproximadamente, 12 anos. Embora já tivesse uma ligação muito forte com todo tipo de arte, a tatuagem apareceu em sua vida em um sorteio, na faculdade e se tornou a forma de arte predominante em sua vida. Foi após estudar a respeito e com o incentivo da irmã- e cobaia- que Mariana decidiu aprender a tatuar.
Atualmente, Mariana produz artes no estilo Fineline, ou seja, a tatuagem é feita com linhas finas e de forma que o desenho se cria diretamente na pele da pessoa, através de um processo chamado Freehand.
Cosmos, natureza feminina, tatuagens orgânicas e suaves… Vamos entender o que é a técnica em Freehand da artista.
“Eu estudava Jornalismo e o tema “tatuagem” caiu para mim em um sorteio, num trabalho em grupo sobre estética da arte. Eu já tinha visto minha irmã tatuada, mas foi essa pesquisa que me fez ver além da superfície desse ofício milenar. Eu não tinha tatuagem, mas já desenhava, pintava paredes, telas, tecidos, bordava. Quando fui fazer minha primeira tattoo, o tatuador Dereka já conhecia meu trabalho. Em dois meses, eu estava no estúdio dele aprendendo mais uma técnica que veio a se tornar a principal no meu caminho. E minha irmã, Isadora Montenegro, depois se tornou tatuadora também. Ela influencia muito a minha arte, desde antes da tatuagem..”
Embora os planos da artista, na infância, fossem de ser Arqueóloga, ela acredita que o diferencial no seu trabalho é o poder de ouvir a história do outro.
“Meu trabalho é muito orgânico e não procuro a perfeição, e é algo que está entre a suavidade de um desenho feito a lápis e a força da máquina de tatuar. É importante ouvir a história do outro e poder manifestar, com delicadeza, a visão da pessoa através do desenho estudado diretamente na pele, com características específicas, formando uma imagem muitas vezes surreal e quase sempre suave..”
A suavidade de Mariana reflete em seu trabalho, é impossível negar. Aliás, é a própria artista que afirma que seu trabalho carrega características pessoais e muito de sua autenticidade.
“Acho que meu desenho tem características pessoais, sim, que estão relacionadas à aplicação gráfica da autenticidade na forma de ser e existir. Eu procuro ver a vida através de uma ótica lúdica, sagrada e suave, e o trabalho traduz isso e a necessidade que as pessoas têm de se conectar com essa vibração em um mundo tão metódico e neurótico. Meu trabalho é uma janela para esse jeito de ver o mundo. As pessoas me procuram por essa suavidade. Tatuei e tatuo inúmeras mulheres que vêm a mim para fazerem suas primeiras tatuagens justamente pelo suave. Tem também a ver com o detalhamento e a forma de tradução de uma ideia. A co-criação é algo natural que pode existir em diferentes níveis entre o tatuador e o tatuado. Pois geralmente a pessoa sabe o que quer tatuar, só não sabe exatamente como, pensando isso sob o prisma do que a tatuagem vem se transformando: ela deixa de ser algo feito em réplicas retiradas de álbuns e passa a ser algo original relacionado com a expressão individual do artista em relação à história ou sensação/ideia gráfica de cada pessoa, não como um desenho exclusivo, mas como uma digital, cada um tem a sua.”
E falando em suavidade, muito deste aspecto se deve à técnica utilizada por Mariana em seu trabalho, o Fineline e, também, a técnica em Freehand que respeita os limites corporais, as linhas, do tatuado.
“Eu trabalho com Fineline, que literalmente significa linha fina, logo a suavidade é uma característica marcante. E faço meu trabalho no estilo Freehand, do inglês “à mão livre”, no caso, desenhando sobre as linhas do corpo, estudo a arte em um processo orgânico, espontâneo e mágico, eu diria. Diferente de estudar a tatuagem na superfície plana que é o papel. Meu grid é composto pelas linhas de cada corpo”
Suas criações são, geralmente, ligadas ao cosmos. São, também, botânicas, surrealistas e psicodélicas. E são muitas outras coisas como a infinitude do próprio Universo: A junção surrealista do cosmos e da natureza, o feminino como energia a ser honrada como parte da vida de todos os seres na Terra, conexão espiritual, o religioso e sagrado, para além da religião.
“Eu escuto o outro e, enquanto a pessoa fala, visualizo algumas imagens e proponho a minha visão a partir do que a pessoa está me trazendo. Crio mulheres e imagens relacionadas, seres da floresta, esses temas misturados: mulheres conectadas à natureza; rastros cósmicos — algo bem específico do meu trabalho, e são uma imagem gráfica de um caminho de estrelas -, seres espirituais, símbolos sagrados…”
Caneta pilot vermelha e azul, máquinas rotativas Bishop e mãos livres: O Freehand com linhas finas foram uma escolha da artista.
“O Fineline foi uma escolha minha, eu queria tatuar algo parecido com o que já desenhava no papel e, desde o início, escutei de alguns tatuadores que a minha tatuagem ia sumir com o tempo, que linha fina não era tatuagem, etc. Meu primeiro mestre, o Dereka, do estúdio Freedom of Tattoo, em Fortaleza, sempre me falou para ampliar a tatuagem ao máximo, com base nas linhas do corpo, mas também respeitou minha arte e me ensinou o que seria um tamanho mínimo na época — a agulha era nº 5, hoje eu uso a nº 3 e alguns tatuadores a nº 1.
Nos dois primeiros anos de tatuagem, aprendi com ele também sobre o Freehand, ele me ensinou sobre a tatuagem tradicional japonesa e tanto eu como ele já conhecíamos o trabalho do Jun Matsui, que dez anos depois foi meu segundo mestre. Estive em uma das primeiras turmas no seu workshop sobre tatuagem sem o uso do estêncil junto com Rosa Laura. Desde então, só uso o estêncil em casos raros do uso de geometria na composição do desenho. A co-criação na tatuagem é uma coisa básica pra mim, às vezes tenho dificuldade quando a pessoa não me dá um norte ou quando o cliente chega falando para eu fazer o que quero, geralmente peço para a pessoa me mostrar algumas imagens que ela gostou do que eu já fiz, gosto de sentir o outro…”
À MÃOS LIVRES
Acreditamos que uma produção em Freehand aconteça como em uma via de mão dupla: É preciso ir, mas também é preciso deixar que as linhas e a história falem por si e construam o que, ao final, é a arte milenar da tatuagem.
“O processo é escuta, estudo, desenho, observação, apaga, transforma… até que-plim!- a base para a tatuagem se revela como mágica. Desenho após essa escuta, que não é só com o ouvido que se faz, é um momento de silenciar a mente para absorver o outro naquele presente; às vezes tiro um oráculo, ou faço uma oração, uma meditação… depende de cada pessoa que chega a mim. Até que chego em um esboço e levo a pessoa para o espelho, e ali, ou ela ama na hora, ou a gente ajusta algumas coisas para chegarmos à imagem que é o sentimento da pessoa que aponta: “nossa! era isso e eu não conseguia expressar”, ou “era o que eu imaginava” ou ainda, “ficou melhor do que eu esperava” são frases que escuto bastante das pessoas. Já aconteceu também o contrário, de não ficar exatamente o que a pessoa imaginava, como no caso de uma cliente querida que veio fazer uma tattoo para celebrar seus 40 anos, no desenho tinha raízes e, a princípio, ela achou muito forte. Depois ela entendeu que aos 40 ela não só queria, como precisava de raízes fortes mesmo.
A tatuagem é um processo que nos transforma, mais do que o olho vê. Ela é um dos mistérios da nossa existência, um dos ofícios mais antigos do mundo, que envolve a superação da dor através da beleza que é o desenho e que conta uma história, tanto para si mesmo, como para o tatuador… como para o mundo.”
Mas, claro que as dúvidas também permeiam essa conversa, essa troca. E a artista nos explica que é natural que o outro tenha cautela com o que será produzido em seu corpo-templo.
“Geralmente, a dúvida é o que vai ser o desenho, a arte final, já que as pessoas estão acostumadas a irem se tatuar com uma ideia pronta e definida previamente junto com o tatuador. E no meu caso, a arte final só se revela quando termino a tattoo. Isso é muito bom, tira as pessoas da zona de conforto ao entregar a criatividade para alguém e se apropriam, de certa forma, do processo criativo- pois o desenho vem a partir da ideia dela junto com minha interpretação disso sobre as linhas do corpo. É engraçado, as pessoas comentam que os amigos perguntam o que elas vão tatuar e se espantam quando a resposta é: “Não sei, vamos estudar, criar juntas na hora”. A dúvida é o que pode fazer a gente chegar onde quer. Geralmente escuto das pessoas que a tatuagem ficou como elas imaginavam, ou ainda melhor. E a alegria delas ao ver o resultado é minha maior recompensa.”
Mariana, na maior parte de sua jornada enquanto tatuadora, transitou entre Fortaleza e São Paulo, mas isso não a impediu de alçar outros vôos, inclusive com grandes parcerias de todo o mundo.
“Em 2016, estive no Estudio Galeria Teix com As Tattooistas, mas a maior parte da minha jornada estive entre Fortaleza e São Paulo, em estúdios privados. Participei em cerca de nove convenções e já perdi as contas do número de Flashdays dos quais também participei, desde estúdios como Tattooaria House, como em espaços mais culturais como A Botanista. Também tatuei viajando independente de guests oficiais… Tatuei em lugares como Pokhara, no Nepal, Koh Phan Gan, na Tailândia, e em Amsterdam, na Holanda. No começo deste ano, estive em Berkeley, Califórnia, onde dei uma palestra no estúdio Magnetic Arts sobre co-criação e tatuagem em Freehand. Esse encontro com outras tatuadoras, compartilhando meu processo, também foi muito rico.
Não foi um guest, é até curioso: eu fui fazer uma tatuagem com a Mia Mor, conheci as donas do estúdio, mostrei meu trabalho e elas me convidaram para dar uma palestra gratuita sobre o meu jeito de trabalhar. Publicamos na Internet e, em um dia, lotamos a capacidade do espaço em receber pessoas. Lá, falei sobre a co-criação e o desenho estudado com canetas diretamente sobre a pele. Falei também sobre a tatuagem ser uma das formas de arte mais antigas do mundo. Engraçado se pensarmos que eu queria ter sido arqueóloga, hoje trabalho com algo milenar, mas trazendo isso para a pele de quem está vivo, ao invés de apenas estudar o passado em sítios arqueológicos para apresentar em museus. Trabalho com algo milenar que permanece mais vivo do que nunca. O aprendizado que fica é sobre a preciosidade do encontro. As pessoas, suas histórias e nossa troca são mais importantes que o lugar e o ofício em si. Delas vem o tesouro por onde a criatividade flui, em conjunto.”
Conheça mais sobre o trabalho de Mariana Kuroyama:
Contato: [email protected]
Instagram: https://www.instagram.com/marikuroyama/
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