Por aqui no Brasil, a tatuagem já era praticada por alguns povos que habitavam o que viria à ser o Brasil do período pré-colonial. Povos como os Waujás, os Zorós e os Kadiwéus, para citar alguns.
Além das chamadas “marcas de nação” praticadas pelos negros trazidos de diferentes partes do continente africano, que também foi usada para marcar escravos no Brasil colônia, se estendendo até o fim do Império, no final do século 19.
Em 1959, a fase moderna começou com a chegada do dinamarquês Knud Harald Lykke Gregersen (posteriormente conhecido como Lucky Tattoo), no Porto de Santos.
Lucky trouxe consigo a primeira máquina de tatuar elétrica, marcando o início da tatuagem profissional no Brasil e foi considerado o único tatuador profissional da América Latina por muitos anos, de acordo com uma matéria que saiu no jornal “O Globo”, em 1975.
Na entrada do seu estúdio, havia uma pequena placa de madeira dizendo: “Is not a sailor if he hasn’t a tattoo” (não é um marinheiro se não tiver uma tattoo). Lucky ainda afirmava que a sua tatuagem dava sorte, atraindo assim, a curiosidade de marinheiros supersticiosos para seu ateliê, fazendo jus ao apelido (Lucky = sortudo) que adotou como tatuador aqui no Brasil.
Nessa fase, a tatuagem no Brasil era extremamente marginalizada por ser mais popular entre prostitutas, marinheiros e criminosos. Qualquer um estava sujeito a ser parado pela polícia, ou até mesmo passar a noite na delegacia, apenas por ter uma tatuagem à mostra. Provavelmente uma herança negativa de décadas anteriores onde os presidiários eram identificados pelas tatuagens que traziam, normalmente abordando temas amorosos, familiares, religiosos e até mesmo criminais como mostra um artigo do “Correio Paulistano”, de 1927.
Lucky também teve sua arte mencionada na canção “Menino do Rio”, escrita por Caetano Veloso e eternizada na voz da Baby Consuelo (hoje Baby do Brasil), em 1980. A música foi feita em homenagem ao Petit, um surfista talentoso da época, foi tema da novela global “Água Viva”, e teve o clipe de lançamento apresentado no Fantástico.
Petit era um tipo atlético adorado pelos fãs e um ícone da geração saúde na época, graças a ele a tatuagem se popularizou entre os surfistas e jovens de classe média em geral.
Na década de 70, a arte da tatuagem ainda não era tão difundida por aqui, podendo se contar o número máximo de 10 tatuadores em todo Brasil. No final da década, a tatuagem ganhou mais força com a chegada do italiano Marco Leoni, que fundou o estúdio Tattoo You na cidade de São Paulo, em 1979, introduzindo novas técnicas e materiais que mudaram consideravelmente a qualidade da tatuagem na época.
O estúdio ainda funciona sob nova direção depois de ter passado pelas mãos de alguns tatuadores desde que Marco Leoni deixou o Brasil, em 1992.
Nos anos 80, a tatuagem começou a passar por um período de aperfeiçoamento, onde as formas rudimentares foram aos poucos dando lugar para novas técnicas, trazendo a tatuagem para um nível mais elevado e prenunciando a expansão que aconteceria nas décadas seguintes, onde o número de tatuadores subiria consideravelmente.
Grandes nomes da tatuagem surgiram nessa fase e estúdios mais estruturados começaram a surgir, deixando um grande legado para futuras gerações.
Em 1990 aconteceu a primeira convenção de tatuagem, em São Paulo, organizada por Marco Leoni, dando início à uma fase de disseminação da arte em todo Brasil. O evento aconteceu em uma antiga casa de shows na Barra Funda, um bairro da Zona Central de São Paulo, e reuniu cerca de 50 participantes, dentre eles, alguns convidados internacionais.
Dividindo espaço com os estandes, o evento também contou com apresentações de bandas do cenário underground nacional.
Hoje, as convenções se tornaram bem comuns em todo país, acontecendo pelo menos uma em cada estado brasileiro.
Na virada do século, a tatuagem começou a ter mais aceitação e consequentemente, a discriminação diminuiu consideravelmente, tornando a arte mais popular em outras camadas da sociedade brasileira.
Em pleno século 21, a tatuagem passou do underground ao estrelato, onde o número de tatuadores e tatuados se torna crescente à cada dia, com estúdios cada vez mais luxuosos e tatuadores ocupando lugar de destaque nas mídias populares.
Referências:
•https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Kadiw%C3%A9u
•Uma História da Tatuagem no Brasil, (Silvana Jeha, 2019, Ed. Veneta);
•Teorias da Tatuagem, (Célia Maria Antonacci Ramos, 2001, Ed. UDESC);
•O Brasil tatuado e outros mundos, (Toni Marques, 1997, Ed. Rocco);
•Contribuição aos Estudos das Tatuagens Em Medicina Legal, (Francisco Alves Corrêa de Toledo, 1926, Ed. Estado de São Paulo);
•Doc Do Porto à pele: a história da tatuagem profissional no Brasil, (Thiago Ghizoni, 2016).