Por Leo Neguin
É notável que os níveis de dores são diferentes de acordo com o local e na prática percebemos que os níveis de estresse podem interferir diretamente em como o cliente percebe a dor, assim como uma noite mal dormida, o uso de entorpecentes ou a ausência de uma boa alimentação antes da sessão.
Consequentemente, é comum alguns clientes demonstrarem um certo receio em tatuar certas partes do corpo pela mítica de que determinados lugares são mais doloridos do que outros, sendo até um decisivo na escolha do local a ser tatuado. No entanto, a relação com a dor pode ser relativo e variar de pessoa para pessoa como veremos a seguir.
Os níveis de dores podem ser diferentes para cada organismo e lugares que apresentam maiores níveis nos estímulos de dor para alguns, podem apresentar menores níveis para outros. Vários fatores podem ser decisivos para essa diferença, mas antes vamos fazer um breve panorama sobre a fisiologia do nosso organismo.
De acordo com a Dra. Lusiane Borges, Biomédica e Microbiologista pela UNIFESP, o nosso organismo é formado por receptores espalhados pelo corpo que recebem os estímulos dolorosos e os transmitem ao cérebro pela medula espinhal em frações de segundos.
Alguns lugares específicos, possuem um maior número dessas terminações nervosas, o que pode ocasionar em uma maior sensação dos níveis de dores nessas regiões. Porém a Dra. Cláudia Florio, médica anestesista pela USP, ressalta que a dor é uma experiência fundamentalmente emocional e pode ou não representar uma lesão física, como é observado em doenças como a fibromialgia.
Dependendo da situação emocional, podemos sentir mais ou menos dor, por isso algumas pessoas reagem melhor aos estímulos de dores do que outras. A Dra. Cláudia também explica que a resposta ao estímulo de dor pode sofrer modulações no caminho causadas pelo uso de algumas substâncias, experiências emocionais ou modulação hormonal no caso de mulheres durante o período do ciclo menstrual, por exemplo.
Regiões com menos camada de gordura onde a pele é menos espessa, também podem ser um determinante para identificar uma região mais dolorida no nosso corpo. Uma vez que os receptores estão presentes nas camadas mais profundas da nossa pele, como afirma a Dra. Lusiane, outros fatores devem ser levados e consideração como hábitos alimentícios, prática de atividades físicas regulares, além do estado psicológico e emocional como já vimos anteriormente.
Existe uma grande questão no mundo da tatuagem sobre o uso ou não de alguns recursos para ajudar a aliviar a sensação de dor durante a sessão, e muitos clientes optam pelo uso de analgésicos, entorpecentes ou anestésicos em busca desse alívio. Como médica anestesista, a Dra. Cláudia adverte que é importante levar em consideração as contraindicações que essas alternativas podem ter.
O uso de analgésicos pode ajudar o corpo a reagir melhor ao estímulo de dor, porém pode surtir efeito contrário em algumas situações, além do uso de relaxantes musculares em excesso poder implicar em complicações na frequência cardíaca de pessoas com problema de pressão.
Anestésicos tópicos são muito populares entre clientes que querem reduzir os níveis de dores durante a sessão, mas é importante observar os níveis de analgesia da pomada além de se certificar de que o medicamento seja um produto devidamente certificado.
Nesse caso, a anestesia intradérmica seria a alternativa mais eficiente, porém pode ser caracterizado como uso ilegal da medicina como previsto no artigo 282 do Código Penal, que descreve a conduta criminosa como sendo o ato de exercer a atividade sem autorização do órgão competente ou fora dos limites impostos pela legislação.
O uso de substâncias que alteram o estado facultativo como bebidas alcoólicas ou outros tipos de entorpecentes, podem atrapalhar o andamento da sessão por alterar o nosso estado facultativo, além de nos tornar passivos de decisões mal tomadas que podem resultar em arrependimento no futuro.
Em todos os casos o tatuador ou tatuadora, a menos que tenha formação em alguma área da medicina, não pode recomendar nenhum desses recursos, sendo de total responsabilidade do cliente assumir os riscos que cada um deles podem oferecer.
Observando na prática como tatuador, o uso de anestésicos durante a sessão também pode modificar a textura da pele, prejudicando o processo e ocasionando eventualmente em uma má cicatrização, mesmo quando manipulado por um profissional capacitado. Além disso, o problema do uso de anestésicos tópicos esta na ação superficial dessas pomadas, que não atingem as camadas da pele onde serão depositados os pigmentos.
Com base nessas informações, podemos concluir que independente da região ou da intensidade da dor, o ideal é que o cliente tenha dormido bem na noite anterior, esteja bem alimentado, não faça uso de entorpecentes e esteja com o psicológico bem preparado para que a sessão seja bem-sucedida.
Esse artigo contou com o depoimento de:
Dra. Lusiane Borges, Biomédica e Microbiologista – UNIFESP, CRBM 4125.
Dra. Cláudia Florio, Médica Anestesista – USP, CRM 75500.
