Por Leo Neguin
Existem muitas informações replicadas no mundo da tatuagem no que diz respeito à resposta biológica do nosso organismo em relação ao ato de pigmentar a pele, porém muitas delas são repassadas sem um real conhecimento de causa mais apurado.
Para analisarmos melhor o processo que envolve a pigmentação da pele por meio de puncturas, é necessário lançar mão dos conhecimentos científicos que a medicina nos proporciona para cruzarmos algumas informações e assim, fundamentarmos melhor algumas afirmações.
Em tese, todo tatuador com o mínimo de experiência sabe que o pigmento é injetado entre a camada mais exposta (epiderme) e o início da camada intermediária (derme), e que uma pequena parte desse pigmento é expelido no processo de cicatrização enquanto maior parte dele permanece no organismo. Também sabemos que o processo de cicatrização pode apresentar variações em cada organismo, mas no geral, o processo de reparação mínima leva cerca de quinze dias onde a casca vai se formar entre os três primeiros dias e pode levar entre sete e quinze dias para ser expelida, e a pele pode levar de vinte a trinta dias para se recompor.
Mas o que os estudos científicos podem nos dizer sobre esse processo?
De acordo com a Dra. Lusiane Borges, Biomédica e Microbiologista pela UNIFESP, a pele é o maior órgão do corpo humano, composto por várias subdivisões e inúmeros sistemas complexos onde são controladas diversas funções, além de regular a nossa temperatura corporal e servir de barreira física contra o meio externo, controlando a entrada e saída de substâncias do nosso corpo. A doutora também explica que o nosso sistema imunológico e o sistema nervoso além de estarem interligados, também estão diretamente ligados ao nosso estado emocional.
Como o pigmento é um corpo estranho para o nosso organismo, ele pode causar reação alérgica ou não, porém são bem aceitos na maioria dos casos, salvo algumas raras exceções quando há reação à algum pigmento em específico como afirma a Dra. Ana Cristina Fortes Alves, médica dermatologista pela USP.
Ao injetarmos o pigmento por meio de puncturas, o nosso organismo aciona as células de defesas presentes no sangue e na própria epiderme para combater o invasor e iniciar o processo de restauração do ferimento em questão. Essa reação do sistema imunológico é conhecida como *processo inflamatório ou inflamação, que se trata de um processo fisiológico e faz parte da cicatrização.
Como os pigmentos não são digeridos facilmente pelas células de defesa, uma parte dele é expelido no processo de cicatrização através das cascas que se formam, enquanto uma pequena porcentagem é removida pela corrente sanguínea, porém maior parte do pigmento permanece no local, envolvido por uma cápsula formado pelas células de defesa do nosso organismo.
A Dra. Ana Cristina explica que toda ferida passa pela fase de cicatrização que compreendem a inflamação, de cinco a catorze dias; formação de tecido, entre dois e três meses e por último, a remodelação que pode levar até um ano.
Sobre as recomendações para o período do pós, a Dra. Ana afirma que a exposição da região tatuada aos raios solares no período de cicatrização pode causar queimaduras, comprometendo o resultado final da tatuagem, por isso é recomendável evitar exposições prolongadas ao sol durante esse período.
Banho de mar e piscina também não são recomendáveis no período de cicatrização devido ao excesso respectivo do sal e do cloro na água.
Atividades físicas que envolvem contato ou algum tipo de atrito, também podem causar lesões na região tatuada e consequentemente comprometer o resultado final da tatuagem.
Como conclusão podemos entender que, trabalhamos na camada que serve de barreira física entre a parte externa e o interior do nosso organismo, e que as múltiplas micropuncturas acabam se tornando uma porta de entrada para organismos que vivem na própria epiderme e não se instalam por falta de quebra da barreira cutânea, por isso é recomendável muita higiene e o uso de pomada cicatrizante a partir do segundo dia, até saírem todas as cascas.
*diferente de uma infecção, que é causada pela penetração e o desenvolvimento de um agente infeccioso como vírus, fungos ou bactérias.
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Esse artigo contou com o depoimento de:
Dra. Lusiane Borges, Biomédica e Microbiologista – UNIFESP, CRBM 4125;
Dra. Ana Cristina Fortes Alves, Médica Dermatologista – USP, CRM 82601.