Lettering: conheça as técnicas desse estilo de tattoo

Conversamos com a artista Gabriela Droguett, especialista em Lettering, e vamos tirar todas as suas dúvidas sobre esse estilo de tatuagem.

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O Lettering, que é a arte de desenhar letras, parece que encontrou uma outra arte perfeita, a tatuagem. Os dois têm circulado juntos e o resultado não poderia ser diferente: tattoos escritas cada vez mais exclusivas.
Nós, aqui no Tattoo2me Magazine, já produzimos uma matéria sobre o tema, em 2017. Se liga no trechinho da matéria:

LETTERING X TIPOGRAFIA X CALIGRAFIA

É uma loucura pensar nas diferentes formas de se produzir letras. São muitas possibilidades. Mas podemos apresentar resumidamente como:

Tipografia– É o estudo de como as letras interagem entre si em uma superfície e projeto. Segundo o professor de Letras Gerrit Noordzij, “Tipografia é escrever com caracteres pré-fabricados.”
É comum encontrarmos a Tipografia em textos corridos de livros, planfletos e folhetos, por exemplo.

Caligrafia– É usar uma técnica para criar letras mais artísticas. Demanda estudo e tempo.

Lettering– Pode ser definido- e resumido- como a arte de desenhar e criar letras. A combinação dessas letras serve para um objetivo, uma utilização específica e uma finalidade. “É como uma ilustração, mas a ilustração são as letras.”, afirma Birão Lettering.

Enquanto a Tipografia trabalha com padrões já existentes, o Lettering carrega a liberdade da criação e da criatividade. Cria-se letras do zero e sem levar em conta padrões e letras pré-definidos.

E por falar em liberdade de criação, surge, exatamente neste ponto, a tatuagem em Lettering: desenhar letras… na própria pele.

E para tirar nossas dúvidas e falar com máxima propriedade sobre o assunto, conversamos com a artista Gabriela Droguett, de quem somos fãs, e temos a honra de poder aprender tanto com seu trabalho.

A artista Gabriela Droguett ❤

Gabriela, o início

Gabriela nos deu uma verdadeira aula sobre Lettering, sobre tatuagem.
Enquanto conversávamos sobre sua carreira e suas técnicas de trabalho, a artista preparava as malas para, em poucos dias, desembarcar em Toronto.
A conexão seria Salvador x Toronto, soteropolitana, Gabriela, junto com mais 4 artistas, inaugurou o estúdio Cinc, localizado também em Salvador.
Foi nesse clima pré-viagem que nossa conversa alcançou voo.

“Quando comecei a tatuar, há mais de 10 anos atrás, os tatuadores não costumavam tatuar frases, letrinhas.
“onde já se viu um negocio desse?!”, eles diziam.
E como eles não gostavam, os meninos do estúdio começaram a me passar esses trabalhos. Eu fazia toda a escrita do estúdio.
E aí pensei: bom, vou fazer as escritas mais lindas, o mais incrivel possivel.
Os trabalhos ficavam bonitinhos e as pessoas começaram a me procurar por isso.
E em 2011, eu decidi que eu ia estudar sobre, mergulhar de cabeça, fazer uns cursos, fiz design gráfico, de caligrafia e cursos para melhorar meu trabalho.
Comecei a estudar fontes, diagramação, parágrafos e começou assim.
Foi um encontro.”

Gabriela nos contou que fez o caminho inverso: primeiro veio a tattoo e depois surgiu o amor por desenhar letras.

“A tattoo escrita pra mim é muito forte: Você resume tudo que está te movendo em uma única palavra, ou em duas ou três, ou em um texto.
A tattoo escrita tem uma bagagem enorme!
Eu fico até um pouco sentida vendo as pessoas fazendo tattoo escritas com tanto carinho e cuidado, não é só a tattoo, é tudo que está por trás, toda uma história.
É uma palavra que significa todo um mundo pra aquela pessoa.
Eu dou muita importância tanto pra quem escreve uma letra ou para quem fecha uma costela inteira com o salmo 91, por exemplo.”

Escrever ou desenhar: Lettering!

Eu não sei você aí que está lendo, mas nós ficamos super curiosos para saber como a artista lida com a escrita, com as letras.

“Não tem uma palavra que eu mais gosto de escrever. Mas tem letras que eu adoro desenhar.
Por exemplo, adoro m minúsculo, o maiúsculo eu odeio!
Gosto do S maiúsculo.
Tem umas letras que eu tenho mais paixão.
O z minúsculo… o O eu gosto muito, dá pra variar bastante.
E sabe o mais engraçado? É que as pessoas acham que eu escrevo daquele jeito.
E eu não escrevo assim.
Aquilo é um desenho que eu faço. É um desenho de letra.
Minha letra mesmo é uó.
O Lettering é o desenho de letra. É o que eu faço hoje.
É o processo de desenhar uma letra, uma frase, um texto.”

Lettering, a técnica de Droguett

Lógico que não poderíamos deixar de falar de técnicas e inspiração com a artista. Nos questionamos: existe uma técnica para escrever ou se cria conforme a inspiração?

“Olha, existe uma técnica e você depois constrói em cima dela.
Eu sempre digo que a gente tem que construir para depois desconstruir.
Eu sempre faço uma grade, eu estruturo as letras e esboço o que quero e vou moldando.
Não é éscrever, é desenhar uma escrita.
Eu estruturo bastante antes de fazer o acabamento.
É micro e macro, sabe?
Toda escrita tem uma base, uma altura padrão e se o cliente te der liberdade, fica muito melhor.
Já criei muitas letras e faço muitas cursivas.
Toda letra você pega a forma básica dela e descontrói, mas sem deixar que a letra se perca.
Você tem que conseguir identificar o que está escrito, que letra que é.
É preciso entender a essência da letra.
O T, por exemplo, é um bastão cortado.
Tem que saber como se constrói uma letra, a forma básica de como as letras se estruturam.
E como eu faço mais letras cursivas, comecei a fazer curso de caligrafia de bico de pena.
Tem que estudar mais e aprimorar.
Eu gosto de fazer com que cada tattoo seja única.
Quanto mais se aprende, mais fácil fica.”

O que é mais difícil de fazer? Letra grossa ou letra fina?

“No geral, letras finas são mais difíceis.
A grossa você pode ajeitar, variar, ir engrossando aos poucos.
A fina você faz e tá ali.
Então, a fina é um pouco mais complicada.”

Qual é um mundo perfeito para quem trabalha com Lettering?

“Rapaz, deixa eu pensar…
O mundo perfeito é você ter cada vez mais liberdade.
Mas em relação à escrita, os clientes sempre buscam uma referência e acabam ficando presas à outras letras.
Então, é bom sair um pouco do que a gente vê na internet, por exemplo.
Meus clientes são muito abertos e o mundo ideal é esse: fazer coisas diferentes.
Quanto mais aberta a pessoa está, mais única a tattoo será!”

C’Ink. Tattoo- Porque a arte é tão subversiva quanto ser mulher

O estúdio recém inaugurado em Salvador, tem um time de peso: além de Gabriela Droguett como uma de suas residentes, o estúdio conta com Milena Correia, Nely Tattoo, Carol Hidalgo e Reka Bittencourt.

“Uma coisa que a gente sente falta é a troca.
E é um mundo masculino, machista.
Mulher em estúdio de tatuagem ou era secretaria ou esposa de tatuador.
Aqui em Salvador é um meio bem fechado ainda.
A gente queria estar em um lugar onde pudesse trocar.
E de maneira bem desprentenciosa, sentamos pra conversar e nasceu o C’ink.
É desmistificar que mulher não pode trabalhar junta.
Cada tattoo passa pelo olho das cindo artistas, todo mundo opina, ajusta…está sendo incrível!
A gente tatua todo mundo: Homem, Mulher, Trans… Somos dessas.
A gente tatua todo tipo de público até porque a gente quer uma equidade.
Queremos ser igual!”

Foi ou não foi uma verdadeira aula estar mais próximo e conhecer o trabalho da Gabriela Doguett? Sem falar, claro, em saber tudo sobre Lettering.

Para conhecer mais sobre o trabalho da artista, não deixe de acessar o Instagram e conferir os trabalhos maravilhosos:

Gabriela Droguett Tattoo (@gabrieladroguett) * Instagram photos and videos
58.6k Followers, 1,027 Following, 1,895 Posts – See Instagram photos and videos from Gabriela Droguett Tattoo…www.instagram.com


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Fernanda Moraes
Fernanda Moraeshttps://blog.tattoo2me.com
Editora no Tattoo2me Magazine. Mãe do Zion e Jornalista, às vezes. Cultura Periférica, Indústria Cultural e Tatuagem.

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