TATUAGEM E PELE NEGRA

TATUAGEM E PELE NEGRA: Falar de tatuagem em peles negras é um tabu, teoricamente a pele escura oferece um pouco mais de “desafio” profissional.

Por Leonardo F. do Nascimento A.K.A. Leo Neguin

Introdução

Alguns estudos afirmam que há alguns milhares de anos o planeta terra era habitado por diferentes espécies de humanos, entretanto do ponto de vista biológico, atualmente só existe uma raça que nos define; a raça humana. Para o sociólogo britânico Paul Gilroy, o conceito social de raça é ‘tóxico’, contamina a sociedade como um todo e tem sido usado para oprimir e fomentar injustiças, mesmo no contexto médico.

Distribuída em diferentes etnias que podem ser diferenciadas por fatores genótipos, geográficos, culturais e linguísticos, o tema racial levanta polêmicas sempre que abordado. Para citar algumas polêmicas que permeiam a pauta, podemos destacar a própria definição de raça, a veneração de imagens caucasianas de Jesus e outros personagens bíblicos mesmo sendo eles de origem hebreia. O padrão ideal proposto pelos pensamentos eugenistas, a demonização de alguns povos por fatores socioculturais, étnicos e religiosos, a categorização social e a estereotipificação do indivíduo com base em fatores étnicos e muitas outras situações que dariam margem para um debate muito mais extenso.

Se analisarmos pela ótica religiosa, maioria das religiões em algum momento apontam para um mito de criação onde todos os seres humanos foram criados a partir de um único ancestral em comum, assim como a ótica científica também nos aponta para um ancestral em comum com base nos estudos de análise dos genótipos humano. Grosso modo, concluímos que independente do discurso adotado, todos acabam apontando para uma ancestralidade em comum seja qual for a origem étnica. Isso torna alguns eventos da história da humanidade como a escravidão, o colonialismo ou o próprio nazismo, ainda mais inaceitáveis e desumanos.

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Observando as origens do preconceito, entendemos como os desdobramentos da escravidão no passado influenciam até hoje na estrutura social que se estabeleceu atualmente como mostra o experimento social intitulado “Blue eyes, Brown eyes” proposto pela educadora norte-americana Jane Elliott. Nesse experimento Elliott mostra como pessoas de etnias distintas como negros, latinos, asiáticos, judeus e sobretudo, mulheres e homossexuais, recebem um tratamento social menos digno do que os demais. Muitas vezes essa influência acontece de maneira sutil e sem nos darmos conta, acabamos perpetuando muitos comportamentos que consequentemente acabam mantendo o “status quo” das discussões étnicas, como propõe a filósofa brasileira Djamila Ribeiro em seu ensaio chamado “Pequeno Manual Antirracista” onde ela trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos.

Artes corporais

Nas artes corporais também não é diferente. Estudando um pouco mais a história não contada, podemos ver como práticas milenares presente em diversas etnias africanas, caíram em desuso com a escravidão dos povos africanos desde o período colonial, retirando uma das identidades culturais mais marcantes de muitos povos africanos.

Atualmente falar de tatuagem em peles negras é um tabu entre profissionais da área, visto que em termos de tom de pele, teoricamente a pele escura oferece um pouco mais de “desafio” profissional.

Quando comecei a tatuar no início dos anos 2000, era comum ver profissionais se recusando a tatuar peles escuras ou fazendo comentários maldosos sobre a situação nos bastidores.

Uma prova de que ainda estamos sendo influenciados inconscientemente pelos pensamentos que subjugaram tantas culturas no passado, esta na empolgação quando aparece um cliente com a pele bem clara, na busca por peles mais claras para expor em convenções de tatuagem ou no fato de não haver muita divulgação de trabalhos realizados em peles negras nos portfólios.

Como exemplo, posso trazer minha experiência pessoal de quando sou procurado por clientes que lamentam o fato de não encontrarem muitas fotos de tatuagens em peles negras nos perfis de tatuagens das redes sociais.

Esporadicamente também sou questionado por alguns clientes sobre uma tal “especialização” para se tatuar peles negras. Sempre fico intrigado com essa questão, porque passa uma ideia de que peles negras necessitam de materiais, pigmentos e procedimentos diferenciados na execução do trabalho.

Ao meu ver, a polêmica criada em cima dessa pauta é causada pela aversão da parte de alguns em tatuar peles negras somada ao oportunismo de outros que usam essa suposta especialização para se autopromoverem.

Inicialmente tento explicar que não é necessário uma técnica diferenciada para se tatuar peles negras, talvez o termo mais correto seria uma abordagem diferente para atender a necessidade da situação.

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Fisiologicamente falando, o sistema tegumentar até pode apresentar certas particularidades em cada indivíduo que podem variar de acordo com a idade, parte do corpo, porte físico, tom de pele ou até mesmo a região geográfica onde o indivíduo mora, mas não a ponto de exigir uma técnica específica em cada caso.

Talvez o xis da questão esteja no desenvolvimento do desenho, na escolha dos tons e na sensibilidade artística e profissional para identificar a melhor abordagem para conseguir um resultado satisfatório e duradouro em todos os casos.

Sendo assim, podemos concluir que a problemática da pauta em questão esteja mais nas raízes do preconceito étnico do que na fisiologia da pele propriamente dita.

Lembrando que a proposta desse artigo é trazer uma reflexão sobre o tema com alguns recortes e menções relevantes para a discussão. Para um maior aprofundamento do tema, sugiro uma pesquisa mais detalhada nos links destacados aqui no corpo desse artigo e para quem quiser acompanhar o meu trabalho pelas redes sociais ou debater um pouco mais sobre essa pauta, é só entrar nos links abaixo.

Abraços e até um próximo artigo.

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